segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A casa caiu pra você: seu pai não é o melhor pai do mundo


Olha só, vou te mandar uma real:
Seu pai não é o melhor pai do mundo,
Seu pai não é o super homem.


Abri o facebook hoje e vi umas 50 postagens dizendo isso.
Desculpa ae, mas vocês estão viajando.

Estou em Petrópolis, vim visitar meu pai. O nome dele é Gina, também é conhecido como minha mãe. Meu pai anda meio ausente sabe... tá morto. Mas ele foi meio ausente também, sabe, sem ressentimentos, já faço terapia há algum tempo e hoje já aprendi a amar meu pai, um ser humano.

Num busdoor aqui na cidade Imperial vejo uma propaganda de uma loja de tênis que tem um símbolo de super homem, meu pai super herói, dê um presente, ele merece blablabla. Isso é uma bullshetagem danada, baboseira da porra, mas vende.

Vende no sentido literal, afinal se seu pai é foda, vamos COMPRAR um presente pra ele né? Se a propaganda fosse "seu pai é um bosta, mas compre um presente pra ele" acho que não ia vender muito. E vende também pelo mito de que a gente tem sempre alguém machão, mesmo se seu pai for gay, forte, mesmo se ele for raquítico, exemplar, mesmo se ele for político, enfim, alguém perfeito, que eu te garanto que ele não é, que vai estar sempre com você pra te proteger, mesmo que ele esteja morto. Porém,  caso ele morra, ou falhe, ainda tem o Papai do céu dando cobertura sempre que você precisar. Tenho minhas crenças no meu Deus, mas é certo que não tem nada a ver associar Deus com Papai.

Meu pai já morreu tem mais de 10 anos, mas bem antes disso eu já achava meio forçado esse negócio de meu papai, meu herói, meu Deus, Papai do céu.

Primeiro que falar PA-PAI é bem violentinho, escrotinho. Parece que é gago, ou que tem uma conotação sexual, sei lá, mas o ponto principal não é esse. Não é bacana  porque essa romantizaçao é feita desde a escola, já que quase todas tem esse ritualizinho de dar presentes pro super pai, pai herói.  Se forem escolas católicas, como a que eu estudei, ainda tem isso do Papai do céu.

Lembro que os filhos de um conhecido estudavam com meus sobrinhos nessa mesma escola católica que eu estudei. Vi a molecada saindo no dia dos pais com um porta cd, que eles tinham feito com um desenho do super homem e Papai eu te amo. Esse conhecido era viciado em cocaína, galinha, batia na mulher, não ajudava com as contas, era gordo e feio, mentiroso compulsivo e ainda por cima tirava meleca sem medo de ser feliz na frente de todo mundo. E a mãe estimulava o mito do super pai, apesar do olho roxo. Imagina quando a casa cair pra esse moleques filhos deles?

Duas crianças brincam. Ela começou a falar que o pai DELA era melhor nisso e naquilo que o MEU. E que o pai dela era melhor que meu pai no futebol. Tinha uns 8 anos. Bati na garota e parei de falar com ela, a minha vizinha de casa aqui em Petrópolis. Como assim minha filha? Meu pai é o melhor do mundo no futebol! Ele não perde, é imortal e não se machuca. E pouco tempo depois disso, ele não só se machucou jogando uma pelada, como tomou caneta e vários dribles humilhantes do pai de outro amigo que era bom de bola. Fiquei muito chocado esse dia, um sentimento de vergonha, decepção, sei lá, vai explicar sentimento. O telhado da casa caiu.

Lembro de uma vez que meu pai foi me buscar na saída da escola, inesquecível essa vez. Ele todo arrumado de terno, bonito, a cara do filho, os meus amiguinhos com uma certa invejinha branca que eu lembro dos olhares, porque meu pai era O delegado de policia federal, trabalhava no Rio, minha professora olhando com cara de uau!, foi quase uma presença de um mito, de um super herói,  foi uma super presença. Tão super que essa foi a primeira e única vez e ele nunca ia na festa do dia dos pais. A porta e a janela da casa caíram.

Meu pai não foi um péssimo pai, apesar do que possa parecer. Nunca me deixou faltar nada, tentava dar carinho de maneira torta, mas dava. Me ensinou muita coisa legal: uma vez achei uma carteira lotada de dinheiro com documento e tudo, tinha uns 10 anos. Queria ficar com a grana, lógico. Ele me deu a grana equivalente, mas botou a mesma quantidade ali de volta e me fez ir na casa do cara, que ele conseguiu achar não sei como porque não tinha o google, entregar em mãos a carteira exatamente como achei. Esse mesmo pai, super moralista, super católico que fez bodas de prata na igreja, tinha uma família paralela secreta com uma filha e tudo, hoje minha irmã caçula querida. O que foi uma exemplo legal também porque eu percebi que a poligamia é possível. Piada joselita. Na verdade, quando descobri essa do meu pai, aí sim o resto da casa caiu. E se essa casa não tivesse sido construida, não tinha casa pra cair.

Essa coisa de super pai, pai herói, não é saudável. Seu pai é só uma criança, que foi educada por outras pessoas cheias de falhas, que cresceu e virou seu pai. Seu pai é humano, se ele não errou, pode ter certeza que vai errar e se essa consciência fosse passada desde a escola, ao invés de porta cds com o super homem, a gente viveria num mundo mais real de pais humanos, com choques de realidade menos fortes pra crianças que descobrem que seu pai também perde no futebol,  que seu pai é um viciado em cocaína e bate na sua mãe.

Sim pode até ser que seu pai seja super mesmo, porque existem pessoas muito bacanas nesse mundo e muitas delas se tornam pais, ou também porque o super homem está nos olhos de quem o vê né?
Eu juro que não é inveja, olho grande, eu quero ter o que você tem. Mas, pensa comigo o óbvio: se todo mundo tá postando hoje, "MEU pai é o melhor do mundo", é logicamente impossível que todo mundo esteja certo.
Meu pai sim é o melhor pai do mundo- frase do filho do serginho.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A porra do Lucas


Ha 12 anos atrás eu conheci o porra do Lucas. Não lembro o nome dele. Diego? Ou talvez Fernando? Eu não entendia o que era o Lucas quando o conheci pela primeira vez. Sabia que era um escroto, isso sim.

Sabe uma transa daquelas memoráveis? Só que ela é sua ex-namorada. Situação perigosa que a gente acaba sempre vivendo e revivendo. Acho louvável quem termina e termina mesmo. Eu poucas vezes fui assim, ainda mais se tratando dela, primeira namorada. Estranhamente, depois de um sexo animal, eu deitado na cama pelado e ela se levantou. Parecia estar com pressa e ansiosa. Era uma pressa discreta de querer me enxotar dali. Percebi o pezinho agitado, o andar de um lado pro outro, as indiretas, mas não entendia o porquê. Ela vai até o banheiro. O celular dela acende, uma mensagem: chego em uns 30 minutos. Não era Fernando esse Lucas, era Diego.

Fui pra casa e não me contive, liguei pra ela e percebi que ela estava monossilábica. Perguntei o que não queria ouvir: Ele tá aí, não tá? É por isso que você tá falando assim? Ela ter ficado em silêncio foi a primeira facada. Meu primeiro amor, achava de verdade que ia ter filho e envelhecer com ela e ali me dei conta que não, não ia. Desliguei na cara dela cheio de ódio. Tá achando o que?! Essa vagabunda. Uns cinco minutos depois (que hoje penso devem ter sido uns 30 segundos) Como assim? pensei eu no meu comportamento adolescente de 18 anos, Eu desliguei puto com ela desse jeito e ela não vai me ligar de volta? Não ligou. Bateu o desespero de garoto juvenil, liguei de novo e ameacei sério, falei que se ela não fizesse isso e aquilo outro "eu nunca mais fa-lo com você". E ela? Ela respondeu com uma indiferença humilhantemente dolorosa de quem já estava com o Lucas: Tudo bem.

O nó na garganta que eu senti aquele dia foi tão sólido que parecia que ia me sufocar. Liguei pra uma amigão meu pra afogar as mágoas e tentar aceitar o Lucas. Escrevi sobre aquele sentimento horrivelmente inédito numa folha de papel que tenho até hoje. Bem engraçada de ler. Hoje.

Lembro que esse mesmo amigão também já teve seu Lucas, lembro bem: ele ficou quase no mesmo estado de paralisia nó na garganta com o adicional que teve uma leve taquicardia. Estava ele andando acidentalmente pelas redondezas da casa da ex quando viu o carro dela parado. Um homem no lugar do motorista, e não era o pai dela. Nem o irmão. Putz. Foi logo depois do término, a ex dele com o babaca no carro, cheia de carinho, deitada no colo da porra do Lucas.

Talvez pra muita gente isso seja tranquilo, bom pra vocês Dalaies Lamases, Sidartas e Jesuses, mas uma das coisas mais difíceis depois de um termino é o Lucas. Em geral ele já está sempre rondando, e quando percebe que a carne foi abatida ele vem igual a um abutre atacar a carniça.

Há alguns meses atrás, num domingo a noite, acontece acidentalmente de eu estar com o celular da minha recente ex namorada na mão, e vejo no visor: Lucas chamando. E foi aí que eu surgiu a nomenclatura oficial de Lucas. Me dei conta naquele momento de quantos Lucas já tinham passado na minha vida. Quem é essa pessoa (homem logicamente,  porque nunca conheci umA Lucas) que liga pra MINHA mulher num domingo a noite? Ou que manda mensagenzinha dizendo que chega em 30 minutos? Ou que faz comentário cheio de gracinha no facebook e ela ainda por cima curte? Afinal, quem é essa porra de Lucas??

O escroto do Lucas é quem esfrega na nossa cara esse egoísmo de querer tudo só pra nos, nossa mesquinharia, nossa pequenez de não querer aceitar que ela não foi e não é nossa propriedade. O primeiro erro eu ja sei: MINHA mulher. Não é mais e nem nunca foi. Mas é muito fácil a gente cair na imbecilidade de achar que possui o outro, tanto durante, quanto depois de acabar um relacionamento. Isso de achar que é seu, só seu, e que vão te pedir autorização antes de ficar com ela, e de que ela vai estar pra sempre na sua. A própria linguagem já contribui, o pronome é possessivo e a gente acaba sendo também.

Se terminou e você já está em outro relacionamento, bem e tranquilo, é pouco provável que você se importe com o Lucas. Mas o problema é um pouco mais grave se o bosta do Lucas entra na jogada antes de você arrumar uma Lucas na sua vida. Dá uma certa dorzinha de cotovelo maior se você não arrumou uma Lucas antes da sua ex receber uma ligaçao do puto do Lucas num Domingo a noite.

O segundo erro tá ai: é presumir que o Lucas é muito mais do que é, é dar mais valor e poder ao Lucas do que ele tem. Na hora que li no celular dela "Lucas chamando" imaginei um cara mais bonito, mais interessante, mais rico e que já estava fazendo um sexo mais gostoso do que eu fazia com ela e que a porra do Lucas era mais doce que a minha. Sim ele pode ser tudo isso e ok, ele pode ser o mais novo romance dela, mas também pode ser nada disso. Das 2 maneiras não faz diferença, terminou está terminado. Mas mesmo assim a tendência fácil é voltar pra essa loucurinha juvenil egoísta de querer possuir só pra si.

Não posso ser assim injusto com Lucas, já vi casos de casamentos sendo salvos por causa dele. Porque um dos dois arrumou um Lucas, a outra parte percebeu o quanto amava ou vice versa. Por outro lado também  já vi ele ajudar pessoas a terem mesmo certeza que acabou, quando como conheci uma Lucas no trabalho e percebi que não queria mais estar num relacionamento que, não fosse essa Lucas, poderia ter sido um inferninho bem mais longo ou até pra sempre.

Ok, ok. O lucas não é de todo mal e justo uma das coisas boas do Lucas é isso: ele não é pra sempre.
Ele pode pra sempre existir num curto período pós-términos, mas ele sempre passa.
Hoje já até consigo ver o Lucas com outros olhos sabia? O Lucas passa. O Lucas já passou.
O Lucas é desagradável, mas tenho que admitir que o Lucas me faz uma pessoa melhor a cada vez que eu aprendo a ter mais recursos para lidar com essa situação de término.
Obrigado Lucas...
aproveita e vai se fuder seu filho de uma puta.
Eu, no dia que soube da porra do Lucas a abandonei minha ex(ao fundo) de vez. 



Essa gentalha, os velhos

A gente tá ficando velho. Nunca pensei que ouviria esse clichê numa roda de amigos. Mas é isso mesmo, a gente tá ficando velho. E o mesmo vale pra você, se você é gente.

Eu e meus amigos de escola caímos no clichê que vi meus pais, então velhos pra mim, cometerem: relembrar os velhos tempos. Lembra daquele dia? E daquela vez? Daquela época? Quando você tem mais Passado do que Futuro, você vai para as velhas histórias.


Nesse dia também percebi o óbvio. Existe uma ilusão de que a nossa infância era mais linda e mais romântica e mais divertida e mais colorida e mais saudável que a das crianças de hoje que só querem saber de Xbox, Psp, Wii, e já tem Facebook, Twitter e Instagram. E tenha certeza que nossos pais pensavam que Amarelinha e Pique-esconde e Balão mágico e a Xuxa semi-nua com as paquitas sensualizando era muito modernoso, que a infância boa foi a deles. E tenha certeza que os pais dos nossos pais também achavam a mesma coisa. Mesma coisa é a nossa ilusão de que não vamos viver os clichês de envelhecer.

Envelhecendo, talvez por ter escutado tanto, você também vai soltar um: "Na minha época...". Essa também é uma frase escrotinha. Parece que está implícito que a época que você está vivendo não é sua né? Na minha época como assim? A época de agora não é sua? Ok, são expressões, mas expressões expressam alguma coisa e essa expressa mal alguma coisa. Você não vai ouvir um adolescente falando isso, "Na minha época, quando eu tinha 5 anos". Não. No mínimo desvaloriza o presente e o envelhecer sutilmente. Enfim, sutilezas da complexidade da língua portuguesa como cu que não tem mais acento.

A Odete Roitman dizia que o português é uma língua chinfrim. Eu lembro dessa frase porque foi quando eu aprendi o que era chinfrim. E a pobre da Odete, andando num dia de chuva por uma dessas ruas chinfrins do Rio, caiu de fuça. E com essa modernidade modernosa a gente ficou sabendo rapidão que a fuça dela tava fu. Edu Paes, "gente fina pacas", ligou pra ela depois que ela disse que ia processar a prefeitura ou sei lá quem porque eles tem dinheiro pra JMJ e pra FIFA e pra PAPA e pra UPP e pra PM e pra PQP, mas pra GENTE poder andar paz, não tem Paes? Lógico também que não é porque ela é velha e caiu de cara e ficou parecendo o Bandit do Jonny Quest, mas sim porque ela é velha e famosa. O legal é que a calçada que ela caiu continua esburacada.

Há duas semanas atrás num dia que também chovia muito, era umas 11h da manhã e eu estava no meu carro parado em primeiro lugar na fila em frente ao sinal da Farani com a Praia de Botafogo. Um velhinho, magro e nitidamente frágil, se desequilibrou com o guarda-chuva e o vento e uma outra rua esburacada dessas e caiu de cara no chão na faixa de pedestres. Você acha que o Edu ligou pra ele? Nem Edu nem nenhum cretino que tava nos carros do meu lado. Niguém ligou. O sinal abriu e neguinho arrancou o carro desviando do velho no chão! Tava muito frio, muita chuva, e ninguém ali vai envelhecer mesmo, ninguém ali tem avô, ninguém ali viu razão pra se molhar, ninguém ali é GENTE, né? Eu sai correndo, ajudei ele a levantar, parei um táxi e coloquei ele dentro. Larguei meu carro ligado, de porta aberta, no meio do trânsito e teve idiota que teve a audácia de buzinar pra mim.

De fato envelhecer é mesmo chato e duro. Chato literalmente porque a gente diminui de altura mas duro só com viagra. O corpo insiste naturalmente em falhar, e não só no sexo. O corpo funciona mais lento e quase tudo é pior, se você assim quiser enxergar mesmo quando não enxerga mais.

E será que ninguém além de mim enxerga e acha chato que não tem propaganda de cerveja com uma velha gostosa como principal? Velho em propaganda só se for de dentadura, remédio ou pra fazer gracinha e ridicularizar a velhice. Velho não vende. Velho não tem valor a não ser pra financeira que quer fazer empréstimo porque é interessante pra empresa deles, não porque eles acham os velhinhos fofos.

Falando nisso, ninguém ouve e acha bizarro essa coisa mesmo de falar: "ai que fofo!" ou "o velhinho, bonitinho, tadinho, fofinho" e outros inhos falando de velho, de velha, de casal de velhos? É tão comum, mas tão nocivo. Existe um sentimento de superioridade absurdo implícito nisso. Você usa essa expressão pra quem? Pra bicho, pra bebê, pra mendigo, pra criança... Você não usa esse tom pra uma pessoa jovem e sarada da sua idade.

Ninguém vende a sabedoria, a calma, a serenidade, que eu pelo menos espero ter triplicado daqui a 30 anos. Não tenho 80 anos e meu corpo ainda não falha muito, mas já tenho barba branca e metabolismo bem mais lento e espero daqui a 40 anos ainda ser considerado gente.

Esse discurso todo, mas eu não gosto de muita gente. Saí do Rio pra fugir da quantidade exorbitante de gente da JMJ e fui pra Petrópolis ficar com meus sobrinhos e jogar essas porcarias da criançada de hoje, tipo Xbox. Coisa mais idiota dessa criançada de hoje. Acabei jogando 3 dias seguidos só de raiva. Mas voltando ao assunto, a JMJ, acho meio tosco ser JMJ. Até a igreja com seus moralismos e politicamente corretos tem uma jornada pros jovens, porque não pra Gente? Porque não JMG?

Tudo isso contribui pra que meu amigo fale com certo pesar numa conversa "é... a gente tá ficando velho." Velho, mas a gente continua gente, meu amigo. Acima de velho, jovem, Papa, Puta, a gente é gente. E gente, pelamordedeus, se eu ou a Odete ou um PM ou o Paes cairmos de cara no chão, por favor ajude, todo mundo é gente.

Que velhinha fofinhazinha!