sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Novo Programa do Governo - "Fora Daqui! causa polêmica, mas resolve.

Existem milhares de mendigos por aí. não sabemos de onde brotam, de onde vieram, só sabemos que são sujos asquerosos e fedorentos e deveriam ser mortos e triturados para serem transformados em sabão.

Esta seria uma possibilidade de acabarmos com dois problemas de uma vez só: 1- não termos mais que ficar cruzando com e vendo esses nojentos nas nossas ruas; 2- mais sabão que poderia ser usado pra limpar os pobres que fedem a manteiga ransa porque não tem dinheiro pra comprar sabão senão passam fome.


Ainda bem que tem gente que não pensa como eu e você, tem soluções melhores e se preocupa de verdade com esses porcos inúteis (os mendigos, não os pobres, neste caso).

o governo do estado em uma parceria super inédita com a prefeitura do Rio, lançou mais um programa para solucionar mazelas como esta. Inspirado em um quadro de grande sucesso do programa Cláudio Ricardo, "De volta pra onde você nunca deveria ter saído" o programa do governo, carinhosamente apelidado de Sujeira Zero, vai se chamar FORA DAQUI! e vai botar muito fedorento pra picar a mula, graças a Deus.


Absurdos como este não vão mais acontecer depois do Fora Daqui!


o novo programa do governo finalmente fez alguma coisa de bacana pros mendigos. o Fora daqui! leva eles de volta pra sua origem, pras suas famílias, ou pras ruas das suas famílias, bem longe das ruas do Rio. Caso o mendigo não tenha família, ou não saiba mais se é gente, não há problema. ele é cuidadosamente jogado no próximo município de menor distância do local em que ele foi achado.

E não é pouca bobagem esse programa não. Não bastasse toda a generosidade governamental, os xexelentos inclusive voltam de ônibus da prefeitura com ar condicionado. o ar condicionado na verdade nao funciona, mas são todos ônibus com ar.

esta sim, sem dúvidas, é uma bela medida do governo pra acabar com a sujeira nas ruas. pense você naqueles dias que está com sua esposa e um ser asqueroso desses passa te olhando, ou pior, pedindo alguma coisa, de ambas as formas se portando de maneira inconveniente.  assim, o Fora Daqui! que apesar de estar custando cerca de 60 bilhões aos cofres públicos nos poupa muito.

Primeiramente, o Fora Daqui! nos poupa de termos que dar um fora daqui! simbólico, muitas vezes gastando até R$5 em comidas ou esmolas. Também nos poupa energia e tempo precisosos que gastaríamos para nos esquivarmos desses chorumes humanos em uma caminhada circular mais longa, ou ainda, finalmente, nos poupa de visões desagradáveis na nossa rotina.

além disso, uma outra perspectiva interessante do Fora Daqui! é que ao ser carinhosamente despejado em novo logradouro, existe maior probabilidade do nojento maltrapilho ser notado e receber maior percentagem de esmolas/dia, justo por ser um elemento novo na paisagem.

O Ornitorrinco me mandou às ruas para perguntar aos mendigos o que eles achavam da medida. Graças ao Fora Daqui! não encontrei nenhum na Zonal Sul. na verdade encontrei um, mas preferi não perguntar.



Dois exemplos de obstáculos que não teremos mais que superar depois do Fora Daqui!



Um dos que encontrei, mas não terei mais que encontrar é um mendigo repugnante que fica perto do posto de polícia do Largo do Machado. muitas vezes ele fica simplesmente em pé, olhando pra diagonal, ao lado da banca, na direção da 2 de Dezembro. frequentemente ele ri olhando pro nada. ou ri olhando pras pessoas. dá no mesmo. eu achava que ele era louco porque frequentemente o olhar dele ia sem direção, mas parece que não é bem assim.

ele é cor marrom escuro, cor de chocolate amargo, olhos vermelhos, é levemente bochechudo, o cabelo tem uma coroa careca, um buraco no topo da cabeça, quatro dreads de 20cm de largura e de tamanhos diferentes e sempre com resto de folhas secas ou comida. as roupas são pretas, ou estão tão sujas que parecem pretas. a lateral da calça está tão rasgada que dá pra ver o pau dele de lado. ele fede. fede bastante.

Muitas pessoas como você e eu, passam e, simplesmente passam. não tem uma reação de "oh! que nojo", ou, "nossa! que fedor", ou "meu deus, dane-se esse ser". nenhuma dessas. não há mais reação. e assim temos aí mais uma contradição nos que foram contra o programa, afinal porque eles se incomodam com a remoção de lixo se eles mesmo nem viam este lixo? Não é absurdo? eu mesmo só prestei atenção a este bicho e anotei todos estes detalhes por puro prazer jornalístico e compromisso com o Ornitorrinco.


essa sensação de ser um fantasma, uma alma penada vagando, sem saber que está morto, e de fato,  ele fede como um defunto apodrecendo, mas não está morto. ele está muitas vezes ali, em frente à galeteria, em pé, vivo, olhando o fluxo de pessoas. bom, agora com o Fora Daqui! não estará mais. ufa!


Um exemplo de gastos desnecessários que o Fora Daqui! vai nos poupar.





finalizo pedindo perdão, caríssimo leitor. sei que usei palavras e vocabulário chulo e posso ter ofendido, peço perdão. mas o fato é que falar morador de rua é só uma desculpa, um eufemismo pra atenuar nossa culpa, porque morar não é bem o caso aqui né? a mesma culpa implícita daqueles dois reais ou aquele salgado com refresco que você tinha que pagar antes do Fora Daqui!, mesmo que não tivesse vontade real de pagar, mesmo que na verdade fosse só para que aquele ser de mau gosto saísse do seu raio de visão. sei que fui um pouco duro nas palavras e usei da agressividade pra falar desses coliformes fecais gigantescos, peço perdão se causei raiva e indignação acima de tudo.

No entanto,  convenhamos, meu nobre e caro leitor, se eu e você realmente estivéssemos indignados com a situação destes pobres seres asquerosos, acho que estaríamos fazendo muito mais do que um texto chamando a atenção pra estas pessoas, no meu caso, ou lendo e se indignando com minhas palavras ironicamente duras, no seu caso.

Um grande beijo e Fora Daqui! neles!



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sobre segredos, olhares e o Maicom



lembra do maicom ? o maicom que é de paracambi, interior fluminense, com a queixadagem dele de chegar ali assim, de cueca, me fez refletir sobre segredos, sobre olhares.

os olhos do maicom estavam vermelhos e nao escondiam muita coisa, mas com aquele olhar perdido e meio boçal, maicom leu o meu olhar. uma coisa (que eu nao falei) foi que quando ele perguntou se vcs estavam sozinhas, maicom, em toda sua rudimenteza garoto de cuecas da cidade de Paracambi, leu nos meus olhos, no olhar que lancei pra vc naquele momento que tinha alguma coisa secreta ali. eu falei que nao estava com ninguém, mas ele insistiu confirmando com o "ãhn" característico depois de cada frase junto com o sorriso psicopata: "aquela ali (vc) é sua né? ãhn?" eu insisti que nao, e ele disse que eu "tava de caô - ãhn?"  eu ri e ele me perguntou o nome da outra e o resto da história vc já sabe.

o olhar, os olhos, o que se esconde por trás... gosto da sensação de eu, sozinho aqui, com minhas idiosincrasias e visões de mundo secretas, pensando e escrevendo sobre o que vc me causa.

gostei de escutar suas visões sobre uma festa de aristocratas em Ipanema olhando no fundo do seu olho, e por 5 segundos que duram 3 horas esquecer que eu estou no trânsito de copacabana e imaginar: será que ela imagina o fascínio que ela exerce nesse momento?

gostei caminhar atrás da sua figura numa trilha com uma luz linda, chapado que parecia um sonho e de chegar perto o suficiente da sua nuca pra sentir seu cheiro, e vc me olha,  inocentemente, (ou talvez nao pq vc nao acredita em incocências né?) sem vislumbrar que I have butterflies in my stomach.

gosto da surpresa de acidentalmente achar uma meia (cheirosa ainda por cima... sim eu cheirei. hahaha)  no meio dos meus travesseiros, e de acordar pra dar aula e ver vc agarrada no meu edredom com a boca aberta e cara de troncha, e estando na aula aqui agora, escrevendo no celular enquanto essas alunas nao fazem idéia que eu penso nisso tudo.

continuo levando em consideração as coincidências secretas que pra alguns podem ser estúpidas,  como vc achar pontos comuns entre eu e sua última paixão, de termos histórias parecidas (mas eu com inteligência emocional, desculpa ae, seu ex burro), como os nossos copos azuis do vinho serem os únicos pares no domingao do salmao, como nossa forma preguiçosa como eu e vc falamos, como o pingente de coruja que acorda misteriosamente na minha cama em Petrópolis, como as figas no nosso peito, e a sincronicidade de vc estar aqui presente justo num momento de virada tão bom da minha vida. e de fato são baboseiras, mas ao mesmo tempo sao fascinantes.

vc falou que algumas relações suas tinham algo de secreto e por tudo que eu falei aqui entendo o fascínio desse poço. gosto muito de te olhar. ponto. mas gosto muito do fato de te olhar depois de vc ter lido isso, te olhar com meu sorrisinho no rosto que diz: eu sei que vc sabe, vc sabe que eu sei. só. eu e vc aqui compartilhamos esse segredo, de saber que vc nao fala nada, mas sabe muito do que tem por tras do segredo do meu olhar. algumas pessoas percebem que tem algo no ar na cozinha de yakissobas e pipocas e perguntam, a namorada dele no ano passado, a minha roomate dessa vez. mas saber? só eu e vc.


prefiro acreditar que sim, algo além desses olhares secretos vai acontecer entre nós. mas nao depende só de mim e como falei domingo e acabei de te dizer depois que vc queimou seu pão: fogo baixo Mulher! fogo baixo deixa as coisas mais gostosas ao contrário do que o Maicom pensa. e tb nao pense que escrevo esse texto só com essa finalidade de que algo aconteça além de olhares. escrever é de alguma forma uma maneira gostosa de tentar encontrar palavras pra esses segredos por trás do meu olhar. escrever é uma maneira de tentar imortalizar, ou sei lá, tornar mais sólido e palpável o que vc me causa. escrever isso é ser franco, comigo e com vc. poderia e ainda pretendo te falar tudo isso, mas além do fato de vc ser claramente uma bocó tabaroa mór pra receber elogios e ouvir coisas desse tipo, as palavras não ficariam registradas, gravando esse instante, que na pior das hipóteses vai ser só um texto sobre o meu olhar fascinado por uma mulher.