sábado, 18 de janeiro de 2014

Sobre um encontro com uma japonesa


Um dos países que eu mais quero conhecer é o Japão. Os japoneses me intrigam pelos seus silêncios, pelo mistério e contradição que são.  Falo disso, pq hoje eu encontrei essa japonesa, que me fez sentir coisas boas.

Digo encontrei não só pelo significado do verbo, mas pelo fato de que um encontro aconteceu. quando eu escrevo e vc se identifica e acha que me entendeu ocorre um encontro. Talvez vc pense, o que é que  há de sensacional em um encontro? daí eu te explico o que é de fato um encontro e no final vou fazer uma pergunta de duplo sentido.

como se pode notar pela minha forma de escrever, meu pensamento flutua, voa, varia e flui de um tema e usa hiperlinks e conexões consecutivas sobre diversos temas e palavras pra tentar expressar o que é ser ar e água no horóscopo e na mente.

 em um texto talvez seja mais fácil e compreensível, mas se fosse falando, vc poderia se irritar com minha forma de ser e ok, fazer o que? Mtos se incomodam com o fato de seu pensamento ser confuso, avoado e desconexo, só que quando um encontro com uma japonesa acontece , isso nao importa,  porque no que te dizem ser defeitos, vcs se percebem iguais em alguma medida e compreendem melhor a si mesmos, e o que é melhor, compreendem o outro. 

Num encontro com um japonesa, vc nao quer ser interessante, engraçado, animado, ter pressao baixa ou alta, vc é vc, cansado num domingo a noite. Se sente a vontade tanto pra falar, como calado 5 minutos caminhando pela orla e ouvindo o barulho do mar. Nao há a menor necessidade de preencher silêncios ou comentar algum comentário do outro, e a outra pessoa não só entende como faz igual.

Quando um encontro com uma japonesa acontece, vc nao precisa ser nada alem de ser vc mesmo, é vc com suas idiossincrasias de falar coisas com firmeza, ou de ter tido seus complexos com seu dedo de naja e uso de drogas que prefere nem comentar, é entender viagens de visão turva de ver pinguins no Arpoador, falar expressões como picada na veia e ter crise de riso, é saber ter problemas de comunicação, seja vc vata, pita ou kapha... Vc e a japonesa com coisas em comum e coisas diferentes, mas essa consciência e compreensão de que vcs dois, de fato sao 2, faz quase com que vcs pareçam 1 por alguns instantes.

quando um encontro com uma japonesa acontece, é lógico que vc quer um outro encontro, mas pensa que apesar desse texto, todas essas conclusões possam ser só devaneios, ilusões e percepções suas. ok, sem problema. Vc não se importa com isso pelo simples fato de que mesmo que seja tudo sua criação e que a japonesa não pense nada disso, vc se sente feliz porque um encontro de qualquer maneira traz o melhor de vc mesmo, um encontro te conscientiza sobre se amar e amar os outros por quem são, por mais cliché que isso possa soar.

e finalmente, vc não se importa se o encontro foi só pra vc, porque um encontro é estar cansado a 1:00 da manhã tendo que acordar cedo no dia seguinte, mas querer tentar te fazer entender, querer te fazer sentir ou pelo menos compartilhar esse sentimento delicioso de acabar de ter um encontro com uma japonesa.

E aí? rolou um encontro ou nao rolou pra vc que lê? e pra vc japonesa, eu pergunto: vamos nos encontrar de novo?


Vanilla sky no Arpoador e um pé divino.



sábado, 11 de janeiro de 2014

O dia que descobri que eu era lésbica

não sei o que deu na minha cabeça quando decidi escrever esse texto.



Nós homens somos bobos, um bando de idiota. Homem é tudo palhaço como diz esse ótimo site (http://tudopalhaco.blogspot.com.br/). Basta ver um decote, uma silhueta bem delineada ou um rosto delicado e simétrico que a gente fica de quatro. Somos obcecados por mulher. Falamos sobre mulher em 97% das conversas. Nos outros 3% falamos sobre o resto das coisas do mundo que a gente faz pra pegar mulher.

O dia que eu descobri que eu era lésbica foi no dia que reparei na menina da xerox e confirmei vendo "O azul é a cor mais quente". Eu percebi que gosto muito de mulher. Me identifiquei muito com as cenas entre duas mulheres ou só com os closes no rosto e boca e todo o resto sensacional da Adele Exarchopoulos. Seria impossível ficar 3 horas vendo aquele filme não fosse o fato da Adele sorrir, chorar, ficar pelada, gemer e falar em francês comigo em todas as cenas do filme.




Quando a Adèle me olhou assim e pediu pra eu roubar e matar minha mãe eu não tinha como dizer não.


Pelo meu encantamento pelo sexo feminino já fui chamado de galinha e de gay. Gay porque as vezes aprecio tanto que não consigo agir mesmo quando recebo sinais pra agir e galinha porque pareço encantado por todas. Porque a real é que toda mulher tem sua poesia, mesmo as 97%, como a menina da xerox, que não são a Adele.

Um exemplo dessa apreciação exagerada, foi o início de um namoro que chamei uma ex pra dormir no meu apê, ela morava longe. Ela, lógico, já achou que era só pelo interesse malicioso de sexo. Eu convenci ela que não era por isso, e não era mesmo e ela aceitou. Eu estava tão encantado por ela, achava ela tão linda e divertida e sagaz que não iria fazer algo que fosse contra o que tinha prometido e que comprometesse minhas chances de namorar essa mulher. Os homens muitas vezes, quando estão afim de fato de uma mulher, ficam puta cabreiros pra fazer sexo com a mina, meu. E assim foi.

Deitamos na cama juntos, nos beijamos, e mesmo com tesão não fiz nada. Pausa. Breve silêncio. 
Ela -Franco, posso te falar uma coisa? (eu já sabia que era merda) Eu acho que você é gay.

Por outro lado a questão de me acharem galinha vem por outro aspecto. A diferença de mim pro galinha é que este não gosta de fato de mulher. Ele acha que gosta e faz a mulher acreditar que gosta, mas no fundo não gosta, porque não sabe apreciar, além do que um típico galinha jamais ficaria com a menina da xerox.

O problema dos galinhas, é que em geral eles não querem se envolver, e quando se envolvem é pela metade e só porque querem comer ou beijar o maior número de mulheres. Parece que o cara fica querendo encher um poço sem fundo de baixa auto-estima ou de outras carências que tenta suprir com a pegação sem fim,  sem de verdade apreciar as nuances que só um olhar aguçado e mais romântico pode enxergar. Quando se fica na rotatividade e superficialidade constantemente é impossível penetrar uma mulher. Ok, penetrar soa como safadeza de galinha, mas mergulhar de cabeça é outra coisa. Com consciência dos duplos sentido eu prossigo, acho que você já me entendeu.


Mulher é uma coisa dos deuses. E do capeta ao mesmo tempo. São insuportavelmente chatas e maravilhosamente encantadoras pelo mesmo quesito: os detalhes.

Os detalhes são o que, não por cafajestisse barata, nem por sedução de micareta, eu já falei o que elas queriam ouvir e fiz elas se sentirem únicas, porque de fato todas elas são, e porque de fato achei isso, mesmo se tratando da primeira vez que a gente saiu. Eu não só falei, eu acreditei no que falei naqueles momentos, por isso pareceu tão verdadeiro:  porque foi. Se eu digo que queria ficar beijando e cheirando pra sempre, sempre foi verdade, por mais que eu e você saibamos que seria literalmente impossível, logo, tecnicamente é mentira. E dessa forma, por esse mal entendimento da minha apreciação, já me acharam galinha.

Quando conheci uma ex namorada, em plena quarta feira de cinzas, na minha "cantada", eu falava de amor, sentimentos e abrir chakra do coração e pedia: eu posso te amar por 30 segundos? Teve uma menina que saiu correndo. Outras tiveram uma crise de riso. Teve uma que me chamou de cafajeste, outra de galinha, safado. Entendo, mas não era Wandiagem minha. Essa ex namorada foi a única que topou, e de fato foi amada não só pelos 30 segundos mas por alguns anos,  o que de certa forma mostra que eu não queria só trocar saliva, senão não usaria esse tipo de approach que pode parecer cafajeste.

Já traí e essa única vez foi por um olhar. Ela não era mais bonita que minha namorada da época, não era mais interessante, nem mais inteligente. Mas ela tinha uns cílios longos e tiradas inteligentes, frases soltas e uma voz suave,  cada piscada e cada palavra me hipnotizava e me dava vontade de rir como um bobo por não ter outra melhor forma de expressar o encantamento que eu sentia.  Sim eu amava minha namorada e  ela era única pra mim, mas eu tenho muito amor pra dar e  se você visse aqueles cílios e aquele olhar com o meu olhar você entenderia meu encantamento. Não se trata de machismo, porque o que vale pra mim vale pra quem estiver comigo e o acordo que for estabelecido na relação, mas esse não é o ponto. O ponto é que toda mulher tem alguma coisa de pôr do sol que hipnotiza.

Vinícius já morreu e errou feio na sua de Receita de Mulher. Não existe receita. Não, não "é preciso que as extremidades sejam magras", nem "que alguns ossos despontem", nem "que haja um certo volume de coxas", e sim, nádegas é bom, mas não é "importantíssimo" como ele disse. Desculpa ae, mas essa beleza não é fundamental Vini. A frase dele deveria ser "as muito feias que sorriam porque beleza é acidental". Ninguém olharia pra menina da xerox e acharia ela uma gata. Eu ter achado ela linda é um acidente, acontece, o jargão que a beleza está em quem vê é verdade. Pode acontecer com qualquer mulher, porque todas tem alguma coisa, sem fórmula nem receita.

Sim,  a menina da xerox. Ela trabalha na xerox da Rua Farani e eu comecei a escrever esse texto por causa dela. Um dia esperando pra imprimir um projeto e lá estava ela. A menina da xerox é... estranha. Tem um rosto nada simétrico, queixo meio de Noel Rosa, anda meio desengonçada no salto alto, fala de forma estranha, nada articulada e tem as pernas muito finas, mas ainda assim com celulite pacas. Por outro lado ela tem uma voz deliciosa, uma melodia, está sempre cheirosa com ar fresco, tem umas unhas alongadas finas e lindas e um conjunto de pintinhas no braço esquerdo que me faz imaginar onde mais estariam outras dessas.

Mesmo as estranhas como a menina da xerox tem alguma coisa, um que, um cheiro, o cabelo, uma narizinho, as mãos, a nuca, um caminhar, o olhar, a forma de falar,entende? Eu gosto muito de mulher e sempre tem alguma coisa. É logico que ter uma relação vai muito alem de um detalhezinho simples como esses que eu acabei de descrever, mas mesmo assim pra provar e amar esse detalhes, mesmo que fosse só por uma vez eu acho que vale a pena estar com uma mulher.

Como franco que mais do que nunca tenho sido, estou pensando em falar com a menina da xerox que esse texto é pra ela. Ela pode não gostar porque o lindo e irritante das mulheres é que se eu me acho muito sensível, elas são 600 vezes mais. E daí seu eu chego pra menina da xerox e digo que o resumo disso tudo aqui é: você é feia, mas é linda. Pode ser que ela não se sinta muito lisonjeada.



Ontém bebi mulher demais e vomitei.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Sobre os finais

É inevitável, inadiável, irremediável. O ano acaba, tudo acaba e alguém vai sair da sua vida.

Quando alguém sai da sua vida porque você quis é necessariamente por uma decisão auto-centrada. Você pensa em si e por si, não existe forma alguma de precisar o peso ou alívio da sua decisão na vida da pessoa ou pessoas que você decide deixar. Seja porque você decidiu e assim quis, sem se interessar em nada por possíveis sentimentos ou apegos do outro, seja porque você decidiu e sim se preocupa com o outro, seja por um sentimento de generosidade levemente prepotente de libertar o outro pensando que poderia ajuda-lo a crescer, ou ainda que se diga que deixamos por amor ao próximo. Todas essas razões podem até ser verdadeiras, mas é sempre uma decisão interna sua, o outro não tem escolha nem controle algum sobre isso e só você vai ter que lidar com o aperto no peito de ver ela entrando no carro de outro as 22:30 da noite de uma quinta feira, logo depois de vocês terem terminado, ou o alívio dele não mais te pressionar por suas escolhas profissionais. As consequências dessa escolha, as delícias e as dores de ser o autor da sua própria existência fica tudo na sua conta.

Quando alguém sai da sua vida porque ela, i.e. a outra pessoa, quis, é você quem não tem escolha. Apesar de poder achar ou querer ter escolha quando o deixado em questão é você, apesar de talvez achar que por algum contrato de relação pré-estabelecido com "eu te amos", "até que a morte nos separe" e "viagens pré-programadas" não desse o direito ao outro de acordar numa quarta feira de céu azul em um apartamento no Flamengo e dizer que não te ama mais, como se um "você pode sempre contar comigo, meu filho" garantisse que ele não vai sair da sua vida num estalar de dedo numa noite fria em Petrópolis por causa de um câncer.

Não é exatamente pela outra pessoa que sai da sua vida que você sofre, mas pelas projeções do que poderia ser o futuro e os planos feitos com ela, pelo futuro construido no seu imaginário e que terá que ser demolido. É como se esse alguém estar na sua vida fosse algum tipo de garantia que fizesse com que este porvir fosse um pouco mais tangível, mais firme, sólido e assegurasse que esse futuro planejado de viagens pra China, ou Natais em família fosse sem falha acontecer caso a outra pessoa não saísse da sua vida.

Senão pelo futuro, as vezes é pelo apego ao que houve de memorável, especial e inesquecível no passado conjunto que se sofre. É como se de alguma forma o fato de continuar com esse alguém ao seu lado, na sua vida, fortalecesse uma existência menos ilusória desse passado de um dia que ela estava de faixa marrom na cabeça descendo lindamente a rua general glicério e você sorriu orgulhoso de ter uma mulher tão linda, charmosa e legal como sua namorada, ou nas lembranças de uma tarde viajando com ele conversando. Nem passado nem futuro existem, mas se esse alguém está na sua vida, existe a ilusão de que os dois são mais reais.

Um momento difícil de alguém que se vai, é lidar com os objetos. Objetos da pessoa que sai da sua vida trazem uma carga emocional de apego.  E o cheiro... Achei um casaco do meu pai que ainda tinha o cheiro dele, encontrei um pijama de uma ex que tinha o cheiro dela, foi quase como se eles estivessem ali.  Nestes casos em especial objetos são como lembranças sólidas, algo concreto (e ilusório) pra tentar se agarrar ingenuamente a esse alguém que saiu da sua vida.

Quando alguém sai da sua vida porque Deus ou algum destes acasos totalmente fora do nosso controle quis, é sempre uma crise. Penso em crise como a história do kanji da crise que é = perigo + oportunidade. Oportunidade porque por mais que um fim seja assustador, fora do nosso controle ou trágico, é como disse Boff, "a crise acrisola, purifica, tudo o que não é substancial e fundamental cai, fica só a substância". O perigoso, é que com a perspectiva que se ganha no distanciamento que só a ausência traz, quem parecia insuportável pode se tornar bem mais legal. Você conhece alguém que sinta saudade de aspectos que ela acha ruins de alguém? Você sente saudade das piadas, das conversas, do sexo,  dos cheiros e de tudo que é bom e se ilude pensando que a relação era só isso e a pessoa vira uma santa. Você não pensa "que saudade dela me enchendo o saco por ciúmes idiotas de eu ter brincado com uma loira bonita! Como eu adorava discutir por razões idiotas...."

E por mais que você pareça sofrer pela perda do outro, por esse alguém que sai da sua vida, no final, é o sentimento mais solipsista possível, você sofre por você e para você mesmo. É como se aquela existência da outra pessoa na sua vida tivesse alguma obrigatoriedade ou dependência com você, como se o mundo fosse parar em solidariedade ao seu sofrimento numa tarde branca de neve em um Thanks Giving em Nova Iorque, ou como se alguém, além de você dentro da sua bolha pessoal e única de idiossincrasias e interpretações de tudo que existe fora da bolha, pudesse entender através de uma conversa de 5 horas na Praça São Salvador, de um texto feito de palavras no Ornitorrinco, de uma peça que você escreveu, ou através de qualquer forma de tentar expressar tudo que está dentro de você, como se alguém pudesse realmente entender esse sentimento dentro de você. É um sentimento que você nutre por você mesmo, e não por quem se foi. Seu sofrimento, seu sentimento de abandono, sua incapacidade de aceitar mudanças, tudo seu.


Quando alguém sai da sua vida geralmente não é muito divertido, as mudanças e a tristeza que vem nesses momentos nunca são tão naturalmente aceitas quanto a alegria de um momento bom. Só que elas são importantes e lembram você que é necessário vivenciar o luto, luto de alguém que morre, real ou simbolicamente, de uma parte de você que morre, pra poder renascer. E um dos problemas é que todo mundo quer renascer, mas como se renasce sem morrer? E ninguém quer morrer. A gente quer se agarrar ao que quer que pareça seguro, mesmo que seja aquela corda que te impede de cair, mas que está amarrada em volta do seu pescoço.

Isso me lembra aquela parábola dos dois monges que vão atravessar um rio e chega um moça que pede ajuda para atravessar.  Um deles ajuda a moça, só que os monges faziam votos de jamais tocar em mulheres. Horas depois o outro monge vira pro que ajudou a moça irritadíssimo: Você carregou aquela mulher!  O outro responde, sim eu carreguei, mas deixei ela lá, você continua carregando ela até agora.

Por mais que não pareça feliz o fato de alguém que sai da sua vida por um acidente, que parece ser mais incontrolável que as duas "formas de sair" anteriores, ainda assim o único que temos que carregar é o livre-arbítrio de como lidamos com essa saída. Você não está condenado a sofrer ou ser feliz, (por pior ou melhor que pareça esse fim) você só está condenado a ser livre para escolher como vai lidar com isso.

Esse momento que alguém sai da sua vida, isso de chegar aos finais, é duro porque te lembra que você está navegando em um barquinho precário, à deriva e com um furo no fundo. Ele pode naufragar a qualquer momento, e vai invariavelmente naufragar, nesse mar cheio de vontades e correntes que é a vida.  Navegar é opcional e o mar agitado assusta, mas mar calmo não faz bom marinheiro. Eu escolho navegar.



As vezes alguém navega com a gente, mesmo assim é sempre cada um por si.