quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Quando alguem deixa de existir

Estou no ônibus indo de São Paulo para o Rio olhando a paisagem. Há três meses não vou para Petrópolis, sinto saudades da minha mãe. Penso que se ela morresse agora ia ser bem ruim. Meu lado otimista vai contra esse pensamento e me faz imediatamente refletir: mas e se minha mãe de fato morresse? Como eu me sentiria se ela deixasse de existir?


Meu avô morreu há quase 30 anos, meu pai há 13 anos e meu irmão há pouco mais de um ano. Há quem possa dizer que eles deixaram de existir. Eu afirmo que eles ainda estão vivos e não deixaram de existir. A religião que sigo, e todas as religiões que já estudei e frequentei acreditam que a vida aqui é ilusão, que existe outra vida após essa da matéria, ainda assim, acredite ou não em vida pós morte ou em qualquer religião, posso afirmar que quando a gente morre a gente não deixa necessariamente de existir.
É claro que a não existência de um corpo físico é limitadora. Em momentos que gostaríamos de dar uma abraço, um beijo, sentir o cheiro da pessoa que não está aqui, não há muito o que fazer. No entanto a crença de que nós somos só matéria é ilusória. Podemos ter outras formas de olhar para essa ausência física. Uma delas é perceber o quanto de quem se foi ainda está presente depois que a pessoa morre. Um exemplo, tive recentemente, ironicamente em um dia que pensei muito em não existir.
Estava sentado, quase dormindo, triste e pensando nos rumos que tenho dado para a minha vida. Em frente a mim, um cara dormindo, apagado. De repente, do nada, o cara acorda e me olha. "Franco? Franco Fanti?" Penso: "Um fã do nosso programa." E quebro a cara dois segundos depois: "Cara seus textos são demais! Eu sou psicólogo, leio sempre e uso eles frequentemente com meus pacientes." Se eu morresse agora, posso dizer que enquanto meus textos existirem, eu existo. De uma forma parecida, meu irmão deixou um legado de 15 anos de personagens que até hoje mesmo fazendo parte desta história e tendo visto milhares de vezes os quadros, me fazem rir, me alegram, transformam meu dia e minha vida. Ainda assim estamos falando de dois exemplos que (a não ser que meus textos e estes personagens virassem parábolas memorizadas e passadas oralmente de geração para geração)  carecem de certa necessidade de matéria para que eles existam. Vou além.
Meu avô tinha uma doçura e uma generosidade que ainda que minha memória de quando eu tinha 5 anos (quando ele morreu) seja falha e remota, permanecem em mim, tanto pelo muito que minha mãe se parece com ele quanto pelo sentimento de carinho e amor que resta em mim ate hoje por ele, pelos exemplos que sigo. Situação parecida com a do meu pai.
Um dia achei uma carteira numa calçada movimentada em Petrópolis, cheia de dinheiro e com uma identidade. Não tinha google nem internet essa época, eu tinha uns 11 anos. Eu queria ficar com o dinheiro, não tinha como achar o dono. Meu pai não deixou que eu pegasse uma centavo. Não sei como conseguiu o endereço do dono, me levou para entregar em mãos e me deu a mesma quantia em dinheiro depois. Esta e várias outras lições que meu pai me deu moldam meu caráter e permeiam minhas atitudes até hoje. Treze anos depois de morto e meu pai continua vivo.
E finalmente penso no meu irmão. Apesar da depressão, da timidez, ele era um exemplo de doçura, de pai carinhoso e cuidadoso com minha sobrinha, de marido fiel e dedicado, de pessoa de caráter reto com alto senso de justiça, de artista brilhante. Todos exemplos que independem de qualquer tipo de matéria para existir na minha consciência e meu coração, exemplos nos quais eu me espelho, que direcionam e influenciam diversos aspectos da minha vida. Tenho certeza que você que lê também tem uma ou muitas pessoas que não estão mais fisicamente presentes aqui, mas reflita se eles de fato deixaram de existir na sua vida e consequentemente no mundo.
Um amigo falava que queria construir um prédio pra que depois que ele morresse houvesse algo que de alguma forma fizesse ele continuar existindo. Refleti muito sobre isso na época e cheguei a conclusão que podemos continuar existindo para muito além do concreto. Sim, eu, você e todo mundo que agora vive e que agora lê esse texto um dia vai morrer. Na tentativa de iluminar um tiquinho a minha, as nossas consciências, escrevo meus textos e tento ser o exemplo que gostaria de seguir. Se no dia que a gente se for conseguirmos mudar a forma de pensar de um ser humano, podemos de fato olhar a morte como só mais uma transformação e não o momento em que deixamos de existir. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Aceitação #2

O primeiro passo pra vc se tornar quem vc gostaria de ser
É aceitar que vc ainda não é essa pessoa