quarta-feira, 11 de junho de 2014

Ponto de vista: Uma breve história sobre porque a greve dos metroviários em SP é maravilhosa

Esse título é uma mentira proposital. O texto não é exatamente sobre a greve e não acho greve uma coisa maravilhosa, mas ao mesmo tempo acho que esta greve  está sendo maravilhosa. Esse título é pra ilustrar o ponto real desse texto: ponto de vista.




Você pode começar já lendo esse texto e pensando, que escritor babaca e manipulador, eu quero ler sobre a greve e o cara mente assim, vai se fuder, não vou mais ler essa merda. Ou você pode pensar, que interessante, chamou minha atenção de forma criativa, eu quero ler sobre a greve, mas me surpreendeu, gostei.

Um ponto de vista é a visão de alguém sobre um determinado ponto. Um filme já velho que fez muito pouco sucesso, mas que eu adorei pelo argumento que sempre tentei usar pra minha vida é Melinda Melinda, do Woody Allen. O filme mostra como um pouco isso do texto: toda história pode ser uma tragédia ou uma comédia, depende de como ela é vista. Eu prefiro optar pela comédia.


A história da greve dos metroviários pra mim é maravilhosa e vou explicar o porquê, mas minha saga começa antes. Estava no Rio no domingo e meu ônibus para São Paulo era 23:30. O ônibus de 23:45 já estava saindo e nada do 23:30. Os passageiro começaram a se revoltar. Tem gente que gosta de reclamar e esbravejar. Parece que precisa disso. Os passageiros de 23:30 eram assim. Um chutou uma lixeira e esbravejou, outro ficou indignado e já falou em processar, outros atacaram o motorista de outro ônibus da mesma empresa. Resolver a situação, tentar buscar uma solução concreta, eles não queriam, queriam reclamar desde como o Rio é uma desorganização terrível, como o serviço é uma bosta,  como a rodoviária é precária e desorganizada, até como é um absurdo aquilo acontecer em plena copa e por isso Brasil não vai pra frente e esse blablabla derrotista já tradicional. Tem algum sentido o que eles diziam, sim, pode ser, algum. Resolveria nossa situação ou melhoraria o serviço da empresa e a rodoviária? Não.

Não sou contra reclamar e exigir seus direitos, o problema que vejo é que os reclamões incorrigíveis reclamam e ficam mau humorados quase que por um vício, uma necessidade e não buscam soluções concretas pro que os incomoda. Os reclamões do ônibus das 23:30 só queriam reclamar e fazer um ping pong daquela energia de raiva e indignação deles alimentando uns aos outros, ou se possível passando ela pra alguém, no caso o supervisor da empresa de ônibus. O supervisor por sua vez prontamente absorveu a raiva, falta de educação e ódio, ficou puto e decidiu não ajudar em nada ninguém ali, ironizando e lavando as mãos. O que as pessoas falham em entender é o quanto reclamar e ficar ranzinza é infrutífero. O supervisor, que também é um ser humano e estava trabalhando domingo quase meia noite, dificilmente iria reagir bem á pessoas agressivas reclamando de quão bosta é o serviço da empresa e o quão bosta ele era por não saber o que tinha acontecido com o ônibus das 23:30 e o porquê do atraso. Acho uma perda enorme de energia a reclamação viciada, penso que sempre é possível olhar para um acontecimento fora do seu controle por um viés positivo e tentar achar uma solução pra situação.

Eu fiquei tranquilo e bem humorado, o que não tem remédio, remediado está. Tentei acalmar os nervos dos passageiros que iriam comigo no ônibus, não adiantou. Todos iriam perder alguma coisa ao ficar no Rio, se eu perdesse o ônibus eu ia perder a gravação do dia seguinte, mas ia ficar mais uma noite no Rio, que eu poderia ver como algo bom. Na realidade, querer eu não queria ficar mais um noite no Rio, mas adiantava se debater, se revoltar e se degladear contra o que a vida te trás? Acho válido a gente sempre tentar buscar o que a gente quer, mas caso não consiga, melhor abraçar e acolher o que a vida te trouxer.

Sendo assim, fui tentar resolver a situação com educação e bom humor. Brinquei com uma atendente, pedi se ela poderia nos ajudar porque a gente tava morrendo de saudade de voltar pro concreto, pro trânsito que estava mais maravilhoso em São Paulo com a greve, ela riu. Resultado: botou eu e mais 3 pessoas menos ranzinzas que vieram comigo num ônibus leito, que é o dobro do preço e o triplo do conforto do que a gente iria as 23:30. Meu ônibus saiu 23:53 e da janela deitado vi o grupo de reclamões esbravejando com outro funcionário da empresa.

E eis que chego na concrete jungle de São Paulo. Segunda-feira 6h da manhã. Greve dos metroviários continua. Terminal rodoviário Tiete congestionado, caótico.  A fila do taxi era de quase 2 horas ou mais de espera, a última vez que vi uma fila desse tamanho foi quando o Flamengo foi campeão braseileiro em 2009. Eu poderia ficar puto e reclamar da greve, da falta de opção de sair dali, da desorganização e despreparo, do roubo dos governantes como os novos reclamões que fizeram um sanduíche de mim na minha frente e atrás de mim na fila? Poderia se esse fosse meu ponto de vista. Mantive o bom humor e fui achar uma solução. Sugeri ao organizador da fila que reunisse pessoas com o mesmo destino ou direção. Resultado: a fila começou a andar bem mais rápido, estranhos se conheceram e começaram a ficar menos ranzinzas na fila e voltando da sugestão ao funcionário do terminal, encontrei na boca da fila, á pouquíssimas pessoas de pegar o táxi um amigo de escola de Petrópolis, que já estava na fila há 1:50, e ia na mesma direção que eu. E assim, aquela fila que poderia ser vista como algo tenebroso causado por uma greve cretina, desapareceu. Não esperei nem 10 minutos pra pegar o táxi.

Agora no taxi, ainda tinha o trânsito infernal pela frente que chegou a centenas de kilômetros nessa segunda, li que é o pior em 20 anos.  Só que um detalhe que esqueci propositalmente de agregar:  no meu passeio até o organizador no início fila kilométrica, vi uma mulher linda com cara e porte de modelo, que era de fato modelo e estava onde? Ali, com o meu amigo, porque ela teve a mesma idéia que eu e ia na mesma direção que nós dois. E de repente aquelas horas de trânsito que poderiam ser vistas como infernais, que foram causadas pela greve "escrota", viraram horas de oportunidade de conversa agradável com um amigo de longa data e uma modelo que além de  gata, era doce, simples e simpática, uma pérola de Pérola no Paraná. Tudo por culpa dessa greve maravilhosamente escrota.

Não sei se optar por um ponto de vista com bom humor e ser otimista faz tudo parecer dar certo mesmo quando dá errado, ou se tudo dar certo é consequência deste ponto de vista positivo. Fato é que venha antes o ovo ou a galinha, viver assim é bem mais fácil. E eu prefiro viver de forma mais leve.

Estando eu leve, não foi problema carregar a mala pesada da modelo quando descemos do taxi, que pra melhorar tinha dado até ali R$57, que nem eu, nem a pérola brilhante do Paraná, tivemos que pagar um centavo porque a empresa do meu amigo reembolsa ele.  Fomos pegar o metro na estação Clínicas, que estava aberta(?!). Me informo pra saber se está funcionando sentido Vila Madalena, o atendente diz que sim. Ele deu a informação errada, entro passo o cartão e vejo que está fechado no sentido Vila Madalena. Gasto uma passagem á toa. Poderia me irritar e ir reclamar da falta de atenção e idiotice dele, ao invés, me despeço da pérola, recebo o contato dela de bom grado e sorridente, agradeço ao atendente burro e retifico a informação errada que ele me deu. O trânsito está completamente parado na chega da Paulista. Filas caóticas de ônibus.

Culpa dessa greve. Impraticável. Decido ir a pé pra casa. Mas o dia está lindo, o clima está agradável, acabei de pegar o telefone de uma mulher interessante e uma caminhada de 30 minutos não é tão longa, vai ser bom pra pensar um texto sobre essa jornada que começou ontém 23:30. No meio do caminho, a pé, na ponte do Sumaré, acho uma nota de R$50 no chão.


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