sexta-feira, 7 de abril de 2017

Esse Pessoal dos Direitos Humanos

Depois de ver a recente execução de dois homens, perto do colégio onde a adolescente Maria Eduarda foi baleada e faleceu, li algumas pesquisas que revelam bem a contradição e falta de informação a respeito de temas que envolvem este incidente trágico. 

Um em cada três cariocas acreditam na frase: "bandido bom é bandido morto." Já quando perguntados se a polícia deveria ter carta branca pra matar, 75% diz que não. E quando se pergunta se Direitos Humanos atrapalham o combate a criminalidade, 70% diz que sim.

Em comum aos depoimentos na mídia, opiniões de gente que pensa diferente de mim que li nas redes sociais e conversas acaloradas de bar, vi ser usado muitas vezes um termo que acho extremamente inocente: "o pessoal dos direitos humanos."

Eu não sou afiliado a nenhum partido, e devo admitir, tenho até certo preconceito por quem vejo que até hoje ainda veste a camisa de algum partido como se este fosse arauto da ética, pureza e práticas limpas. No entanto, para começo de prosa, acredite: não foi o PT ( ou algum outro partido de esquerda ) que inventou os Direitos Humanos! Os Direitos Humanos foram criados pela ONU, no período depois da Segunda Guerra Mundial.  A idéia era promover a igualdade, para que todos os SERES HUMANOS tivessem direito ao básico, como saúde e educação. 


Nests seleto grupo de HUMANOS, incluímos: homem, mulher, branco, preto, amarelo, azul, hetero, gay, trans , e logicamente dentro destes previamente mencionados podemos incluir bandidos e policiais.

Sendo todos humanos, n
enhuma morte, seja de policial ou de bandido, deveria ser mais importante que a outra. Porém, o que acontece claramente no Brasil é que confunde-se justiça com vingança. Um policial, bem como um bandido ou qualquer outra pessoa, não pode ter o poder absurdo de executar ou não alguém, sem que esta pessoa tenha direito a passar por um processo e ser julgada. 
Eu nem sou da área de direito, mas não é muito difícil ter acesso a Constituição Brasileira que diz que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante” (Art. 5º, III) e que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (Art. 5º, LIII) e assegura “aos presos o respeito à integridade física e moral” (Art. 5º, XLIX).

E aí é que começa a parte ardilosa: se você acha natural que as leis e a Constituição sejam respeitadas de forma relativista e seletiva, só vale pra quem não é criminoso, não é contraditório esperar que estas mesmas leis devam ser aplicadas  e seguidas quando se trata do criminoso? Se você acha correto executar bandido, por este raciocínio o que você está corroborando é a idéia que talvez povoe a cabeça de um bandido também: as leis não precisam ser respeitadas, afinal, crime é igual a impunidade.


Como mencionei na recente pesquisa, muita gente ainda acredita que direitos humanos servem pra defender bandido, tanta gente ainda não entendeu que ser a favor de direitos humanos não é igual a querer ver bandido solto. O que os Direitos Humanos defendem é que o criminoso tenha um tratamento JUSTO, como eu, ou você, ou um filho nosso tenha caso cometa um crime, direitos humanos defende que os presídios não sejam superlotados, que todos cumpram suas penas sem serem constantemente torturados, tratados como lixo em prisões superlotadas e insalubres para bem além da nossa imaginação. Eu não preciso mais imaginar, porque através de um amigo Defensor público tive um leve, porém chocante e surreal, gosto do que acontece nas prisões no estado em que ele trabalha.

Não se pode concluir que estas condições citadas sejam justificativas por si só para alguém entrar, continuar ou se encalacrar ainda mais no crime, e este não é o ponto. 
O  ponto é que uma das formas de resumir Direitos Humanos é a vontade de defender os direitos sociais, que valem para mim, para você e para o criminoso, pois saiba, ele também tem direitos por mais que isso as vezes possa te contrariar. Eu e quem quer que defenda os Direitos Humanos não quer levar marginal pra casa por "peninha", mas sim acreditar que talvez se todos tenham acesso à educação, possamos quebrar o ciclo e deixar muita gente fora da criminalidade.

Numa destas conversas de mesa de bar, depois de ver um video de whatsapp, fui argumentar que não concordava nem achava engraçada a forma que dois policiais espancavam um adolescente que tinha furtado uma mulher grávida. Pronto. Basta argumentar qualquer coisa em favor de delinquente que não é raro ser chamado de "esquerdopata", "defensor de bandido", "queria ver se fosse uma mulher da tua família","tá com peninha, leva pra casa" e por aí vai. Minha mãe, que é mulher diga-se de passagem, já foi roubada, com direito a arma na cabeça e agressão, e ainda que pegassem os bandidos achar aceitável que eles fosse espancados e torturados é o mesmo que achar aceitável ela ser assaltada de dia com uma arma apontada na cabeça. 

 Achar corriqueiro e aceitável dois homens serem executados ainda vivos e sem oferecer ameaça aos políciais, equivale a achar o mesmo de uma adolescente morrer baleada com tiro de fuzil dentro da escola. Barbárie é barbárie, tanto pro bandido quanto pra minha mãe, e um grande problema é que muitos de nós brasileiros estamos cada vez mais tomando o absurdo, como normal, com o agravante que se o absurdo é contra um bandido, tendemos a ser mais coniventes.

Como bem resumiu
 Atila Roque, diretor-executivo da Anistia Internacional no Brasil.  "Aceitar o Estado de exceção e a barbárie significa que todos perdemos: perde o sistema de Justiça, que não dá conta, perde a polícia que está em guerra contra a sociedade, perde o chamado 'cidadão de bem', brutalizado pelo medo, perde a sociedade, que admite e alimenta a vingança em vez da justiça. Perdemos a nossa própria humanidade." 


Acredite, se você defende que bandido bom é bandido morto e acha que é aceitável viver em um mundo com direitos humanos seletivos, onde é olho por olho, dente por dente, é certo que caminhamos pra sermos um mundo só de banguelas e cegos.

Falar esse "pessoal dos direitos humanos", é uma expressão besta, não existe este pessoal e se existe, talvez eu faça parte deles. Quem é a favor dos Direitos Humanos só defende uma coisinha que, na teoria, todo mundo diz adora encher a boca pra dizer que tem:
amor ao próximo, e o próximo é tanto sua mãe de 73 anos como o bandido que botou uma arma na cabeça dela.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A ditadura as avessas dos oprimidos

Muitas situações polêmicas que envolvem minorias me fizeram refletir muito recentemente. Em especial teve diversos textos (antigos e mais recentes) sobre a questão das marchinhas de carnaval no Rio, e a última, e que mais me impactou, foi quando o li este texto através do qual soube da história da jovem com câncer que foi acusada de apropriação cultural ao usar um turbante. Todas estas situações permeiam uma questão que vi ser usada diversas vezes em debates sobre estas polêmicas: lugar de fala.

Lugar de fala é uma expressão que aparece recorrentemente em temas que envolvem militantes de movimentos feministas, negros, LGBT e em discussões na internet, como contraponto á falta de voz destas minorias sociais em espaços de debate público e é utilizada por grupos oprimidos que historicamente têm menos espaço para falar. Lugar de fala é a busca pelo fim da mediação: a pessoa que sofre preconceito fala por si, como protagonista da própria luta. Ou seja, negros têm o lugar de fala, a legitimidade, para falar sobre o racismo, mulheres sobre o feminismo, transexuais sobre a transfobia, e assim por diante.

Apesar do conceito em sua essência ser extremamente positivo, o alastramento, a popularização e o uso distorcido do lugar de fala gera muitos efeitos paradoxais e negativos como este print do twitter abaixo, de uma conta (que parecia real, sofreu diversos ataques e hoje fui ver está desativada) de alguém que parecia ser uma militante feminista negra criticando a menina com câncer que usou um turbante. 


Um primeiro efeito paradoxal do uso distorcido do conceito de lugar de fala é reforçar os argumentos "ad hominem"Há algum tempo atrás fui atacado quando argumentei em um texto sobre uma posição de militância feminista que achei extremista e incoerente. Diversas mulheres me massacraram e desqualificaram meus argumentos, não pelo teor destes, mas pelo simples fato de eu ser homem. Em um paralelo, é tão absurdo como um militante de extrema direita defensor do Trump desqualificar minha argumentação contrária aos decretos anti-imigratórios do Sr. Presidente porque não sou estadunidense. E um fator agravante é que estes argumentum ad hominen usados contra mim neste contexto são reproduzidos não só na pauta do feminismo, mas num debate entre uma feminista negra desqualificando uma feminista branca, um transexual atacando um homosexual. Como bem disse Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, se um movimento social desqualifica argumentos que não são enunciados pelos próprios oprimidos, simplesmente por não serem enunciados por oprimidos e não pelo seu teor, de certa maneira ele resgata e legitima uma modalidade de argumento ad hominem.

Este tiroteio ideológico desqualificatório em diferentes círculos de militância, que diga-se de passagem só fortalece a extrema direita,  é usado tantas vezes para blindar a crença que lugar de fala é uma forma de superioridade gnosiológica das pessoas pertencentes a um determinado grupo oprimido, como se estes tivessem uma espécie de acesso privilegiado à verdade, pela sua identidade ou pertencimento a estes grupos. O conhecimento pragmático, o contato direto com uma realidade, são apenas duas formas de conhecimento e reflexão sobre ela, mas não são as únicas e nem são hierarquicamente superiores às outras.

É evidente que
 as pessoas não falam do mesmo lugar social e não possuem as mesmas relações com as estruturas de opressão. É certo que os grupos oprimidos devem ter participação ativa e protagonismo nas formas de falar, saber e poder sobre sua própria condição. No entanto, não é saudável se passarmos de um monólogo ditatorial do macho alfa branco, para uma ditadura as avessas dos oprimidos, onde só pode opinar e debater quem pertence aos grupos que até então tinham menos ou nenhuma voz.  A supressão do debate só gera ressentimento e empobrecimento da argumentação, é preciso ter cuidado, a virtude está no meio.

Os abusos e distorções deste conceito de “lugar de fala”,  têm levado ao que definiu  Renan Quinalha, advogado ativista de direitos humanos, doutorando de Relações Internacionais e colunista da revista Cult: "uma lógica problemática de privatização das pautas em uma armadilha identitária". 
Há uma afirmação do lugar de fala de pessoas pertencentes a grupos oprimidos como os únicos legítimos e aptos a discutir problemas que afetam todos nós. O resultado é que este posicionamento que tem forte viés anti-democrático, onipotente e onisciente sobre estas pautas, acaba alienando e gerando resistência ainda maior em alguns grupos privilegiados, fazendo que mesmo em discursos legítimos, pertinentes e coerentes, só se veja"mimimi" Medidas extremas de esquerda, são prato cheio para extremismo de direita e vitórias de Trumps.

No sentido de construção cultural e histórica, a identidade é um fator fundamental de autoconsciência, de pertencimento, de auto-estima, de solidariedade de grupo e crucial para a ação política dos oprimidos. Contudo, não é nada saudável o que tem se transformado em uma espécie de enfatização desta condição, um uso cada vez mais frequente da identidade como objeto de fetiche, de propriedade inalienável, ao invés de ser vista como um rótulo com data de validade, para irmos além da lógica de segregação. Antes de negros, brancos, machos, fêmeas, gays e héteros, porque não enfatizar cada vez mais o fato que somos todos seres humanos? 

É importante ressaltar que não pretendo confundir representação com lugar de falar. Um hétero por exemplo jamais pode representar um gay, mas do lugar de fala pelo qual este hétero vê o mundo, é perfeitamente possível que ele assuma a questão relacionada a este tipo de discriminação eticamente. Não se pode negar a existência de "lugar de fala”, entretanto, novamente citando Quinalha, "deve-se frisar que lugares de fala é expressão que se pronuncia sempre no plural". Vamos lembrar que opressor e oprimido não esgotam a enorme pluralidade das relações humanas e sempre refletir que q
uem só conhece seu próprio lado do caso pouco sabe sobre ele.


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O etnocentrismo e sua forma correta de torcer

As olimpíadas Rio 2016 acabaram e depois de acompanhar o máximo que o meu tempo permitiu, seja pela televisão, seja in loco, escrevo este texto. O foco aqui é o comportamento da nossa torcida.

Houve diversas polêmicas com relação ao comportamento da torcida brasileira durante os jogos e a maior foi a que envolveu o atleta francês do salto com vara, Renaud Lavillenie que criticou duramente os torcedores após ser vaiado durante seu salto final em que disputava a medalha de ouro com o brasileiro Thiago Braz.

Dentre os argumentos utilizados por muita gente, está o que a vaia fere o espírito olímpico. No que tange momentos nos quais se vaia algo que não se trata da competição em si, como vaiar um hino de outro país que não o nosso, até faz sentido, mesmo que ironicamente sentimentos de nacionalismo exacerbado sejam sempre gritantes nos jogos que celebram a união dos povos. O espírito olímpico trata da tal celebração dos povos e da paz entre as Nações, o que inclui entender que tais povos tem diferentes aspectos culturais e comportamentais que devem ser considerados. Por mais que os Argentinos possam ser taxados de chatos com o hábito de cantar o tempo todo, não dá para imaginar jogos olímpicos em Buenos Aires e querer excluir este fator cultural.

Renault chamou a nossa platéia de "merda" e considerou inaceitável ter sido vaiado no momento de seu salto. Além do fator cultural, torcer contra ou a favor, vaiar ou aplaudir são duas faces da mesma moeda, não faz sentido querer espectadores só na hora do bônus, somente se for apoiando, jamais desestabilizando. Esportes não existem sem platéia e esta deve ser livre pra se manifestar da forma que decidir. Querer só apoio é ser muito relativista e desconsiderar que esportes são passionais e excitantes e é natural que escolhamos apenas um lado para torcer, ainda que não seja o seu lado ainda mais se você é francês e disputa com um brasileiro uma prova no Brasil.

Depois, houve recorrentemente o argumento que existem esportes onde não é "normal" haver vaias, que no futebol pode vaiar na hora do pênalti, mas no tênis é gafe vaiar ou fazer um pio na hora do saque. Primeiramente é muito questionável esta balela de que porque existe este ou aquele protocolo desde em um esporte desde Roma antiga tem que seguir assim.  É justificável se afeta diretamente o esporte, como jogando objetos numa quadra, ou fazendo barulho no momento de um som de largada na natação ou atletismo por exemplo. Mas qual a justificativa de não poder vaiar em esportes como o atletismo? Qual a razão desta formalidade britânica de ser ultra polido e silencioso no Tênis? Fora a de ser um esporte tradicionalmente elitizado, nunca encontrei uma.

Tão questionável quanto os argumentos acima é o dos brasileiros com síndrome de vira-lata colonizado e dos gringos com ar imperialista que condenam de forma simplista como mal educada e equivocada a forma Tupiniquim de torcer. Por que a forma Alemã, ou Americana, ou Japonesa de torcer é a certa e educada e a nossa é errada e sem educação? Para explicitar como é absurdo este argumento imagine que estamos nas Olimpíadas de Tóquio 2020 e a imprensa brasileira e um atleta nosso criticam duramente a torcida japonesa que atrapalhou o desempenho de um dos nossos, pois eles são muito contidos, calados e frios, e o correto e educado é uma torcida calorosa que apoie. Quem usa este tipo argumento não percebe quão etnocêntrico ele é, justamente a visão do presidente do COI, o alemão Thomas Bach, outro que se manifestou publicamente contra a forma de se portar "inaceitável"e "chocante" da torcida brasileira. 

Não somos um povo reconhecido pela finesse, sem dúvida que não, mas quem disse que este é o ideal a ser atingido? Mas já que estamos falando de  bons modos é sabido que quando você vai na casa de alguém, a falta de educação é de quem chega querendo que seus hábitos e costumes prevaleçam sobre o dos anfitriões, neste caso, a casa é nossa, e isso é imperialismo cultural. Somos o que somos e isto não quer dizer que não possamos reconhecer o quanto de coisa tem errada aqui, admitir e pedir desculpa quando agimos errado, só que nitidamente, se houve algo que não erramos foi na nossa forma de receber e torcer nestas Olimpíadas.

Estamos sempre de braços e sorrisos abertos pra receber os estrangeiros e isso de fato é lindo, nunca vi algo parecido em nenhum país que estive ou morei. Só acho que falta abrirmos os braços pra nós mesmos, nos amar mais e nos aceitar um pouco mais como somos, esta torcida apaixonada que traz consigo o chorume e o perfume que é ser brasileiro.

terça-feira, 8 de março de 2016

O PODER DA FÊMEA E A DESIGUALDADE QUE PERSISTE





























Quem é capaz de carregar um (ou mais) seres dentro de si por 9 meses não pode ser fraco. Quem tem hemorragia vários dias todo mês, e não morre por isso, não pode ser menosprezado como sexo frágil. Quem pode acabar com a humanidade sem usar a violência de uma bomba atômica, tem que ter seu poder reconhecido. Desculpa te dar essa notícia meu amigo macho, mas por várias razões, além das biológicas e evolutivas que tantos artigos já esclareceram, as mulheres, como sua irmã, sua mulher, sua amiga, sua filha ou sua mãe, são superiores e têm o poder, mesmo quando não estão no poder. Precisamos reconhecer e valorizar esse poder, e assim talvez diminuir as desigualdades que existem entre nós e essas coisas lindas que nos botaram no mundo.

Não quero começar a argumentar usando o macho como referência, mas é evidente o poder sobre nós. Alexandre Herculano falou há muito tempo atrás que a fêmea é, para os corações puros e nobres – ou para os sujos e vis eu adiciono – o motivo maior e irresistível das ambições de poder, de opulência e de renome. E eu Franco Fanti, reafirmo em 2016 em outras palavras: tudo o que você macho como eu faz no mundo é com o objetivo direto, ou indireto, de ficar com ou agradar uma mulher.

Esse poder da mulher sobre o homem é antigo, já que a narrativa do Gênesis da Bíblia diz que a mulher foi quem persuadiu o homem a comer do fruto, não é? Já ouvi gente dizendo que isso é machista e tá errado. Eu acho que está certo. Não penso que isso seja necessariamente negativo, e deva ser visto de forma pejorativa, podemos ver como algo positivo. Demonstra o poder que a mulher tem para nos fazer comer qualquer fruto. Todo fruto, mesmo que venenoso, sendo oferecido por uma mulher, pode se tornar irresistível para nós.

A história do mundo é contada só pelo nosso ponto de vista do macho, mas precisamos reconhecer que por trás, ao lado ou a frente, mesmo que não se conte assim, sempre houve o papel decisivo da mulher. Veja os grandes homens da história e os grandes merdas. Se uma mulher, encontrar um você um farrapo humano e tentar salvá-lo, quase sempre ela consegue. Porém, se essa mesma mulher encontrar um homem são e quiser reduzi-lo a um farrapo, ela também sempre conseguirá. O dito homem mais poderoso do mundo, Barack Obama, garanto que se tomar uma decisão torta certamente tomará esporro da Michelle em casa. A Michelle e as filhas, assim como sua esposa e filhas, têm poder de te convencer ou no mínimo te influenciar muito, no caso das primeiras elas podem interferir em decisões que afetam o mundo todo.

E todos neste mundo saímos de dentro de uma mulher, eu, você, desde Hitler até Dalai Lama e madre Tereza de Calcutá. Imagine que um grupo de dez homens e dez mulheres acabam numa ilha deserta. Eles decidem repovoar o local. Eles podem ter por ano (descartando gravidez de gêmeos e interrompidas) no máximo dez filhos, certo? E se duas mulheres morrerem, qual o máximo de filhos? Oito. Agora seis homens morreram, como fica? Ainda oito filhos. Quem define o tamanho e o potencial reprodutivo de uma espécie, ainda mais entre mamíferos que criam os filhotes dentro de uma placenta, são as fêmeas. Sem elas a gente não existe, mas sem a gente elas existem. Se as mulheres decidissem não mais engravidar terminaria a humanidade, quer mais poder que isso?

Mulheres não precisam de um homem, mas são o ponto fraco de qualquer um de nós. Os caras que se acham os mais espertos, os mais inteligentes, o machão mais estereotipado, os homosexuais: todos nós podemos ser dobrados por alguma mulher da nossa vida, se não dobrados pela razão, sensibilidade, delicadeza e candura, dobrados pela sedução, a provocação através da sensualidade, do físico ou o sexo em si. Mas o fato é: todos nós sucumbimos ao poder de alguma fêmea.

Só que apesar desse poder do qual eu falo, de acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) as mulheres ainda tem o salário 23% menor que o nosso, podendo a chegar a 40% dependendo da profissão. E de acordo com a ActionAid cinco mulheres poderosas morrem por hora vítimas de violência doméstica, eles estimam algo em torno de 43.600 por ano! A condição da mulher evoluiu e melhorou, mas dentre várias outras evidências como estas duas que falei é fato, ainda não há igualdade.

Uma mulher não pode viajar sozinha, nem acompanhada de outra mulher, porque continua contando como se fossem duas sozinhas como vimos na tragédia recente das turistas argentinas no Equador. Uma mulher não pode ir a um restaurante ou bar sozinha sem ser questionada ou olhada de lado, não pode usar a roupa que que está afim sem pensar onde vai e se vai sofrer assédio. Isso eu falo pelo relato de mulheres da minha vida, mas ainda assim do meu local confortável de homem. Digo confortável sem demagogia, mas com a consciência de que precisamos nos esforçar para entender essas desigualdades e opressão, porque a real é que mesmo sofrendo assedio agressivo vez ou outra de outro macho que gosta de macho, nunca sentiremos na pele de fato o que é.

Um exemplo para tentar se botar um tiquinho no lugar delas é o seguinte: Um dia, correndo sem camisa na orla de Ipanema, fui secado por um grupo de uns cinco homens, que lançaram gritos de "delicioso", "gostoso" entre outras coisas mais agressivas enquanto um deles pegou minha mão. Então a culpa é minha né? Afinal eu provoquei porque estava sem camisa e passando em frente a um local que é sabidamente reduto gay. E ainda tem gente que de fato acredita neste tipo de argumento absurdo quando uma mulher é assediada ou violentada. Agora tenta imaginar você viver este tipo de situação todo dia com o agravante do medo e perigo real de te estuprarem e você ainda sair culpado porque estava no lugar "errado" ou com a roupa "errada"?

Esse texto é para exaltar minha admiração pelo poder das mulheres nas nossa vidas e que mais homens reconheçam este poder e importância delas. Esse texto é para ressaltar que apesar deste poder ainda vivemos num mundo machista e desigual e precisamos refletir na nossa posição privilegiada e confortável o que podemos fazer para mudar?

Parece simples e inofensivo, mas comece por refletir, antes de dar aquela cantada escrota, agressiva e invasiva na rua pra gostosa de vestido decotado, se gostaria de ver outro ser comendo com os olhos e falando a mesma merda se a gostosa em questão fosse sua filha? Ou sua irmã? Ou sua mãe? 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Já estava escrito

Maktub.
Esta 
é uma palavra em árabe que significa "já estava escrito" ou "tinha que acontecer". Tento praticar Maktub na minha vida em especial desde o suicídio do meu amado irmão.
Viver com a crença de que todas as coisas que acontecem já estavam destinadas a acontecer não vai necessariamente contra a noção de livre arbítrio. Esta idéia de destino, implícita em Maktub, pode eliminar o exercício mental nefasto do "e se" e pode despertar em nós uma saudável aceitação total da sua realidade. 
Estou de carona no carro de um casal. O cara escolhe pegar a Heitor Penteado. E então o trânsito pára, congela.


Depois de quase uma hora parados, eu entendo pela primeira vez em dois anos de São Paulo do que se trata o tal trânsito infernal. O cara, já bem estressado de avançar 30cm por minuto, começa uma discussão com a esposa. A discussão é idiota. Não pelo fato da catarse de discutir, mas porque existe o argumento: "é, e se você não tivesse pegado a Heitor Penteado..." e a resposta, "e se você não tivesse esquecido de comprar a bebida a gente não precisava pegar nem Heitor Penteado nem porra de rua nenhuma...".
Pensar "e se" só tem uma utilidade positiva: na criação de um história fictícia. A minha primeira peça eu criei através de um "e se": ...e se amigos e amores, fossem produtos compráveis em uma fábrica(literalmente)?" Falando em ficção, esse é exatamente o ponto: "e se" não existe, é criar histórias imaginárias na sua cabeça, sejam boas ou ruins ficar na ruminação mental do "e se" é totalmente infrutífero.

Normalmente a gente pensa que a consequência que vem depois do nosso "e se" é impossível de mudar, porque já aconteceu, ou vai ser ruim. Você pensa: e se eu não tivesse viajado no dia que meu irmão morreu?  E se eu pegar esse avião e ele cair? Mas você raramente pensa: E se eu chegar lá e tudo der muito certo? E se eu for pedir essa promoção no trabalho e ele me promover pra presidente?

O "e se" é nossa forma viciada, já automatizada de sair do presente, uma tentativa de tentar ter algum controle sobre o que pode acontecer, a não aceitação da sua realidade e do que já aconteceu. Mesmo se for pra pensar "e se" seguido de uma consequência boa, é também um exercício totalmente sem sentido que nos tira do presente, é gerador de ansiedade. O que quer que venha a acontecer não vai deixar de acontecer, ou acontecer com mais violência, ou acontecer com menos intensidade por causa do fato de você ter conjecturado várias possibilidades de "e se". 

O que realmente acontece é que a gente escolhe. Ele escolheu pegar a Heitor Penteado, escolheu reclamar com a esposa e escolheu manter o nível de estresse alto e continuar a discussão. Escolhas sim são reais, "e se" não. Não importa o que fizeram com você, mas sim o que você escolhe fazer com o que fizeram com você, importa estar consciente e atento para escolher no que direciona sua atenção e energia, importa escolher que significado você constrói na sua cabeça a partir das experiências que vive.

Você lembra o que você fez na hora que nasceu? Gritou? Chorou? Olhou pra sua mãe? É improvável que você se lembre, mas aquele primeiro milésimo de segundo, mesmo que totalmente esquecido e instintivo, foi uma escolha. E todos os outros zilhares de milésimos de segundo da nossa vida depois do nosso nascimento. 

Escolhas: algumas a gente nem percebe que faz ou nem acredita que partem de nós. E se a gente têm tanta experiência em “escolher”, porque é tão difícil e, tantas vezes, tão doloroso tomar uma decisão e acolher suas consequências? Será que é porque somos demasiado humanos e precisamos pensar nas consequências?  E se eu não for capaz de aceitar o que vem depois? E se o caminho for muito difícil? E se eu ficar sozinho? E se eu errar? E se a gente esquecer um pouco do “e se”? Que tal?

Não é ignorar as consequências, mas planejar, 
aceitar, abraçar e viver cada uma delas. Aceitação total da sua realidade, o que tinha que acontecer foi o que aconteceu. Estava escrito, são apenas escolhas.
As escolhas não nos definem, mas sim o escolher. Simplesmente escolha! Tudo na vida é uma escolha e toda escolha é um caminho. Não existe escolher errado, melhor ou pior na Heitor Penteado . Existe o "e se". Existe não aceitar sua realidade. E existe viver. 
Maktub




Fato #7

O presente tem esse nome porque estar no presente é de fato um presente.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

São Paulo: alguma coisa acontece no meu coração

Realmente alguma coisa aconteceu no meu coração no dia que eu cruzei a Ipiranga com a Avenida São João. Não sei explicar o que aconteceu, mas aconteceu. Muita beleza no que dizem feiura, a dura poesia concreta das tuas esquinas me parece tão natural nas suas linhas. Imagino o quanto minha visão e descrição soam poéticas, mas alguma coisa acontece no meu coração a cada vez que volto pra cá.


Uma luz forte se acende. Abro os olhos. São 5:30 da manhã, ainda está escuro do lado de fora do ônibus. Em São Paulo depois de uma viagem de 6 horas desde Petrópolis. Me sinto acolhido, me sinto estranhamente bem e abro um sorriso. Caminho para a linha azul do metro, cabelo amassado, cara amarrotada, dançando a música que toca no meu fone de ouvido e sorrisão, devo estar parecendo um psicopatinha entrando no vagão da Linha azul. Gosto dessa possibilidade de parecer louco e ninguém ligar, me remete a quando morei em Nova Iorque.

Uma gorda moribunda dorme de boca e braguilha aberta, um riquinho com cara de Michél Teló raquítico, calça da Diesel e tênis Armani Jeans, uma morena bonita exageradamente maquiada, com uma aliança de 70 kg dourada e roupa de laboratório médico, um hipster com a barba até o joelho e camisa xadrez que parece estar voltando de uma noitada, dois bolivianos com toda a vestimenta Ralph Lauren toscamente falsificada falando espanhol. São muitas possibilidades, muitas histórias simultâneas. São Paulo é muito singular... E tão plural. Alguma coisa acontece no meu coração.

Acho incrível o número de experiências que você não vai viver, a quantidade de pessoas que não, você não vai conhecer. Existe poesia em se perceber um pixel em uma tela de 60" nessa miríade de humanos no trem num horário tão cedo como 5:20 da manhã, a mesma que existe ao andar pela Avenida Paulista na hora do rush.

Ser só um pontinho também tem seu revés, você é só mais um, todo mundo é só mais um, o morador de rua babando de boca aberta no asfalto quente é mais um. Nessa de sermos mais um, sinto que as vezes para muita gente que foi nascido, ou criado, ou só bem habituado com os serviços que, de fato são num geral excelentes aqui, falta a consciência de perceber que a garçonete que te atendeu mal, está só querendo ter um nome e existir,  o anexo é a mensagem de mal humor que ela te envia no atendimento meia boca. Ela demora duas horas todo dia de São Miguel até o restaurante que você saboreia sua deliciosa comida num restaurante de Pinheiros onde exige um serviço bom. O nome dela é Rosângela e ela tem 4 filhos. A cidade muito grande desumaniza, apesar de ser bom ser só mais um na multidão, você é só mais um na multidão. Sobreviver aqui não é fácil, é triste e duro muitas vezes, mas o fato é que mesmo assim alguma coisa acontece no meu coração.

Essa cidade que te impõem tão severamente seu ritmo e seus costumes que você nem se dá conta e você perde seu "puta carioquês daora" que estava "há uma cota" impregnado no seu sangue. Nessa correria é um puta "trampo" conseguir arrumar UMA hora na semana pra conversar com seu amigo e tomar uma "breja"(essa palavra eu não acho nada "daora"), porque vocês trabalham muito e moram levemente longe e a logística de deslocamento multiplicada pelo seu cansaço de um dia de trabalho intenso se tornam desproporcionalmente esmagadores á sua vontade de ver seu amigo.

A linha verde do metro, que é a que mais pego por ser perto de casa, está sempre florida e só o simples fato de ver beldades que desfilam inocentes, sem saber o encanto que causam, faz alguma coisinha acontecer no meu coração. Existe uma concentração gigantesca de mulheres lindas, legais, independentes, abertas a conversar e estilosas em São Paulo. Mas saiba que em São Paulo ser estiloso muitas vezes é NÃO ter tatuagem nem piercing. Ser diferente por fora não é necessariamente ser uma pessoa original, estilosa e de mente aberta. O excesso de estilo aqui me parece muitas vezes cultivar excentricidades para compensar a falta de personalidade, para ter mais destaque, se diferenciar e não ser só mais um destes pixels na tela. 

Os sacos de lixo daqui também são estilosos, de uma estampa esverdeada de imitação de folhas talvez para compensar a falta de verde natural. E o que falta de verde parece ser compensado com uma noção de coletividade bem maior que no Rio. Como gosto de repetir e aplicar a frase que li em Cabo Polonio: basura de nadie, basura de todos. Aqui já vi esse exemplo algumas vezes como quando dando uma volta de bike pela ciclovia da Paulista, passei por um garrafa de cerveja quebrada. Quando fui fazer a volta pra limpar, já tinha duas pessoas fazendo isso... Alguma coisa acontece no meu coração.

Por outro lado percebo que as pessoas são meio policinhas do comportamento alheio. Outro dia uma embalagem caiu da minha mochila e eu não percebi. Uma senhorinha já veio super agressiva me dando um esporro. De certa forma é legal essa atitude, salvo a falta de cordialidade. O que não gosto é que muitas vezes a razão parece mais ser um controle do outro com pitadas de egoísmo, numa coisa do tipo "não faça isso seu porco, a cidade é minha!" misturado com uma espécie de medo apocalíptico que se instaure o caos. É mais bonito quando é só noção que estamos todos conectados aqui agregado a um amor e cuidado genuíno com a cidade. Ainda assim, alguma coisa acontece no meu coração.

Aqui existem regras de bom comportamento. Algumas regras que servem para ordenar e tornar menos caótica a interação dessa tsunami de pessoas acabam ficando contraproducentes. Por exemplo, acho saudável que o bom dia/tarde/noite daqui é muito mais fácil, recorrente e natural. Só que outro dia entrei no taxi distraído conversando com um amigo e já dizendo o endereço que iria. O taxista com muito sangue nos olhos me disse agressivamente: "Boa noite pra você também antes de mais nada!" Então o objetivo da saudação cordial se perde, fica vazio, porque as pessoas passam a usá-lo não como uma forma de desejar algo de bom pra um outro ser humano, mas como uma fala automatizada, uma forma de coerção social, uma espécie de humilhação dos bons modos, do tipo, "olha só seu carioca folgado sem educação idiota, quando se entra no taxi se usa boa noite." Vira um processo paradoxal que me causa estranhamento e alguma coisa estranha no meu coração.

Aqui existem filas, muitas filas. Tenho sempre a impressão que nem se sabe pra que é, mas muitos entram numa mescla de positiva e saudável organização espontânea com uma pitada de espírito de gado burro. O lado excelente é que tudo é mais organizado, mas a maioria usa tão instintiva e automaticamente ao ponto de não se darem conta que as vezes fazer uma fila pode não ser a forma mais ágil e produtiva. Como outro dia que estava numa comida a quilo. Eu só queria salada, que era o primeiro item do buffet.  Peguei e fui pro caixa. Um homem achou ruim, achou que eu estava furando e que eu deveria esperar numa fila de quilômetros mesmo sabendo que não tinha mais nada ali que eu quisesse, porque fila é fila mesmo quando ela é contraproducente.

São Paulo está longe da perfeição, é uma versão maior e piorada de Nova Iorque. Tenho uma relação de amor e ódio com São Paulo. Tenho dias que odeio morar aqui, mas muitos são esses dias que essa mistura de sentimentos, pessoas, pensamentos, visões e vidas tanto me encanta. Amar de verdade requer ver também as falhas e os defeitos e ainda assim escolher. Ontem andando de bike pela Paulista fechada e cheia de gente, eu sorri e percebi que aprendi a amar essa cidade.




Não esqueço de um dos pores do sol mais lindos da minha vida, um sol gigante, redondo e laranja como eu nunca tinha visto antes. Dizem que os cariocas são exagerados, ok. Mas não, esse por do sol não foi no Arpoador, foi por trás de vários prédios no horizonte de uma parte alta do bairro do Sumaré onde eu moro. Eu, um carioca apaixonado pelo Rio não sei porque ninguém bateu palmas pra esse por do sol. É, definitivamente alguma coisa acontece no meu coração.


quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Quando alguem deixa de existir

Estou no ônibus indo de São Paulo para o Rio olhando a paisagem. Há três meses não vou para Petrópolis, sinto saudades da minha mãe. Penso que se ela morresse agora ia ser bem ruim. Meu lado otimista vai contra esse pensamento e me faz imediatamente refletir: mas e se minha mãe de fato morresse? Como eu me sentiria se ela deixasse de existir?


Meu avô morreu há quase 30 anos, meu pai há 13 anos e meu irmão há pouco mais de um ano. Há quem possa dizer que eles deixaram de existir. Eu afirmo que eles ainda estão vivos e não deixaram de existir. A religião que sigo, e todas as religiões que já estudei e frequentei acreditam que a vida aqui é ilusão, que existe outra vida após essa da matéria, ainda assim, acredite ou não em vida pós morte ou em qualquer religião, posso afirmar que quando a gente morre a gente não deixa necessariamente de existir.
É claro que a não existência de um corpo físico é limitadora. Em momentos que gostaríamos de dar uma abraço, um beijo, sentir o cheiro da pessoa que não está aqui, não há muito o que fazer. No entanto a crença de que nós somos só matéria é ilusória. Podemos ter outras formas de olhar para essa ausência física. Uma delas é perceber o quanto de quem se foi ainda está presente depois que a pessoa morre. Um exemplo, tive recentemente, ironicamente em um dia que pensei muito em não existir.
Estava sentado, quase dormindo, triste e pensando nos rumos que tenho dado para a minha vida. Em frente a mim, um cara dormindo, apagado. De repente, do nada, o cara acorda e me olha. "Franco? Franco Fanti?" Penso: "Um fã do nosso programa." E quebro a cara dois segundos depois: "Cara seus textos são demais! Eu sou psicólogo, leio sempre e uso eles frequentemente com meus pacientes." Se eu morresse agora, posso dizer que enquanto meus textos existirem, eu existo. De uma forma parecida, meu irmão deixou um legado de 15 anos de personagens que até hoje mesmo fazendo parte desta história e tendo visto milhares de vezes os quadros, me fazem rir, me alegram, transformam meu dia e minha vida. Ainda assim estamos falando de dois exemplos que (a não ser que meus textos e estes personagens virassem parábolas memorizadas e passadas oralmente de geração para geração)  carecem de certa necessidade de matéria para que eles existam. Vou além.
Meu avô tinha uma doçura e uma generosidade que ainda que minha memória de quando eu tinha 5 anos (quando ele morreu) seja falha e remota, permanecem em mim, tanto pelo muito que minha mãe se parece com ele quanto pelo sentimento de carinho e amor que resta em mim ate hoje por ele, pelos exemplos que sigo. Situação parecida com a do meu pai.
Um dia achei uma carteira numa calçada movimentada em Petrópolis, cheia de dinheiro e com uma identidade. Não tinha google nem internet essa época, eu tinha uns 11 anos. Eu queria ficar com o dinheiro, não tinha como achar o dono. Meu pai não deixou que eu pegasse uma centavo. Não sei como conseguiu o endereço do dono, me levou para entregar em mãos e me deu a mesma quantia em dinheiro depois. Esta e várias outras lições que meu pai me deu moldam meu caráter e permeiam minhas atitudes até hoje. Treze anos depois de morto e meu pai continua vivo.
E finalmente penso no meu irmão. Apesar da depressão, da timidez, ele era um exemplo de doçura, de pai carinhoso e cuidadoso com minha sobrinha, de marido fiel e dedicado, de pessoa de caráter reto com alto senso de justiça, de artista brilhante. Todos exemplos que independem de qualquer tipo de matéria para existir na minha consciência e meu coração, exemplos nos quais eu me espelho, que direcionam e influenciam diversos aspectos da minha vida. Tenho certeza que você que lê também tem uma ou muitas pessoas que não estão mais fisicamente presentes aqui, mas reflita se eles de fato deixaram de existir na sua vida e consequentemente no mundo.
Um amigo falava que queria construir um prédio pra que depois que ele morresse houvesse algo que de alguma forma fizesse ele continuar existindo. Refleti muito sobre isso na época e cheguei a conclusão que podemos continuar existindo para muito além do concreto. Sim, eu, você e todo mundo que agora vive e que agora lê esse texto um dia vai morrer. Na tentativa de iluminar um tiquinho a minha, as nossas consciências, escrevo meus textos e tento ser o exemplo que gostaria de seguir. Se no dia que a gente se for conseguirmos mudar a forma de pensar de um ser humano, podemos de fato olhar a morte como só mais uma transformação e não o momento em que deixamos de existir. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Aceitação #2

O primeiro passo pra vc se tornar quem vc gostaria de ser
É aceitar que vc ainda não é essa pessoa

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Aceitação #1

Eu não tenho todas as respostas
E é preciso aceitar que sem muitas eu sairei dessa vida

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Fato #1

Não importa o que fizeram com você.
O que importa é o que você faz com o que fizeram com você.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Andar com fé eu vou...



No ano de 2002, minha mãe retirou um tumor de 30 centímetros do intestino. De acordo com os exames o processo de metástase estava avançado, o que significa que o câncer já estava espalhado por vários outros órgãos. Meu pai também estava com câncer na mesma época, ela já tinha perdido uma irmã, morta aos 30 e poucos anos de câncer, e sabíamos que ela tinha muito medo dessa doença. Lembro bem desse dia de céu azul e de clima agradável em Petrópolis que minha mãe foi diagnosticada com um câncer terminal. Essa época eu não tinha fé em nada. O médico que a operou me garantiu muito fria e arrogantemente que, com perspectivas bem otimistas, ela duraria no máximo uns seis meses. Eu chorei muito e tive medo.

Treze anos se passaram e minha mãe continua bem viva. Meu pai morreu de câncer naquele mesmo ano de 2002. Dois fatores curaram minha querida velha: o tratamento de quimioterapia e radioterapia, e acima destes, o que curou minha senhora foi a fé dela em Nossa Senhora Aparecida.

Essa história da minha mãe sobre a fé é perfeitamente exemplificada com uma piada americana famosa que o Woody Allen conta no início do filme "Igual a Tudo na Vida". A piada conta que um boxeador toma uma surra no ringue, ele é massacrado. A mãe deste lutador assiste da platéia o filho ser espancado, ao lado dela, um padre. Ela pede: "Padre! Padre! Reza com fé pra ele! Reza com fé pra ele!" e o padre "Eu posso rezar, mas se ele se mexesse e socasse um pouco ajudaria muito!"
Essa piada explicita dois pontos que tem a ver com o caso da minha mãe e falam sobre a fé.

O primeiro ponto é que a fé em Deus, Nossa Senhora, seu Deus, as entidades que você acredita, em nós mesmos, em uma causa, objetivo, em si mesmo ou em alguém tem uma mesma premissa em comum: é preciso acreditar.

Já frequentei inúmeras religiões, seitas, rituais. Já li livros sagrados de diferentes fés. Sempre buscando uma doutrina que me fizesse acreditar, ter fé. Nenhuma me satisfazia, eu queria provas, fatos pra poder acreditar. Um mês e pouco antes de meu irmão se matar, eu tinha voltado a rezar. Sem acreditar muito, pedia pra conseguir ter fé, e, que se fosse necessário que algo duro acontecesse na minha vida para que eu tivesse fé, tudo bem. Ironicamente, o suicídio do meu irmão, foi o que me fez pela primeira vez depois de tanta busca, conseguir ter fé. Através desta tragédia percebi o quanto de uma escolha pessoal, e saudável ao meu ver, existe na fé. É como uma frase de um filme bem mediano, chamado Stigmata, que me marcou muito nesse sentido:
Para quem tem fé, nenhuma prova é necessária, pra quem não tem nenhuma será suficiente.

Ter fé é basicamente acreditar em algo impalpável, é uma qualidade, é uma escolha que deveria ocorrer independente de fatores externos. Você acredita porque assim escolhe. Ter fé é dar um salto no escuro num local desconhecido tendo certeza absoluta que existe um local pra você aterrisar. A física quântica diz que podemos mudar nossa realidade dependendo do que acreditamos e projetamos, existem também aqueles estudos sobre atletas que acreditam, têm fé em um resultado, e no cérebro as mesmas exatas áreas usadas no momento real da prova são ativadas, é como se eles estivessem vivendo aquilo de fato. Basta pensar: quão provável é que um atleta ganhe qualquer coisa se antes de mais nada ele não acreditar na própria vitória? Ter fé é acreditar. É preciso acreditar.
O segundo ponto sobre a fé na anedota e em todos os exemplos que dei, é que de nada adianta você ter fé, se ficar sentado esperando tudo acontecer sozinho. Se minha mãe só tivesse ficado rezando e não tivesse feito nenhum tratamento, se o atleta só acreditar e não treinar, se o boxeador ficar parado esperando que Deus resolva tudo por ele, muito provavelmente não vai bastar. É preciso acreditar e é preciso caminhar.

Como diz uma outra frase inesquecível que ouvi na peça A Alma Imoral que tento praticar constantemente: Deus não abriu o mar vermelho e então Moisés caminhou.
Moisés caminhou e o mar se abriu.

Para quem tem fé não importa se a estrada parece tortuosa, se a rua parece sem saída, se parece impossível:
Caminhemos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sobre promessas de eternidade

Não seria verdadeiro
Garantir agora
Que vou te escolher por toda a eternidade

Mas posso
Com toda verdade e vontade
Te garantir neste segundo
Que por toda a eternidade desejo querer te escolher

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Tá tudo bem.

Hoje acordei meio depressivo. O dia estava cinza, não fui trabalhar e pensei em como seria não existir. Nesses dias estou aprendendo a falar pra mim mesmo:
Tá tudo bem, Franco, tá tudo bem...

A gente precisa aprender a lidar melhor com as emoções. Emoções não matam ao contrário do que se diz repetidamente. Ninguém jamais morreu de amor, ninguém jamais morreu de tristeza, ninguém morre de de medo. As emoções são superestimadas e isso não é bom pra nós nem pras emoções coitadas. Se alguém matou ou morreu nesse mundo não foi culpa do amor ou do ódio ou da inveja, foi culpa de alguém que não lidou de forma madura e saudável com essas emoções.

Sim, Franco acredite, existem formas diferentes de sentir e de lidar com as emoções, sabia? É o que eu considero ser inteligente emocionalmente. Isso quer dizer ter domínio das emoções pra elas não causarem prejuízo e dano não só à você como aos outros. Como num dia que você acorda se sentindo depressivo com o dia cinza em São Paulo, com vontade de simplesmente não existir, e ao invés de se matar ou ficar deitado sofrendo ruminando pensamentos na cama,  você decide encontrar uma pessoa de quem gosta da companhia, sente felicidade por isso, come um pastel de nata e um café e sente prazer e depois sente compaixão pelo Alexandre morador de rua que perambula pela Paulista e tem a cara toda tatuada que parece que está suja e por isso não consegue emprego no Mcdonalds.
E passou.

Certamente vão te dizer que você perceber o que sente e ficar cada vez mais consciente do fato que é possível optar como vai lidar com suas emoções é igual a não sentir, ou é o mesmo que sentir menos. Que balela. Dominar suas emoções não quer dizer não sentir, talvez seja saber sentir... Tá tudo bem.

Certamente muitas histórias vão nos contar daquele amor que é verdadeiro, que é o amor eterno. Desculpa te decepcionar, mas não existe amor nem nenhum sentimento eterno. Existe escolher todo dia, existe regar, existe nos tornarmos eternamente responsáveis pelo que cativamos e pelo que escolhemos. Salvo se você tem um desequilíbrio químico diagnosticado no seu cérebro, as emoções não são eternas e duradouras, elas passam, todas passam.

Não se iluda, não existe UMA pessoa no mundo que tenha só emoções boas, que seja 100% feliz 7 dias da semana e 24 horas por dia, não esqueça disso. Você tá triste sim, mas tá tudo bem.

Você se sente triste porque o dia tá cinza e aquilo que você queria não saiu do jeito que você projetou, você vai ao teatro e sente raiva porque o casal foi desproporcionalmente grosseiro com você porque achou errada e injustamente que você estava furando fila só por causa do seu sotaque carioca quando você havia chegado meia hora antes deles e eles não viram, você sente uma faisquinha de um amor saudável porque a forma de pensar dela é linda, porque ela está sempre buscando ser uma pessoa melhor e fazer do mundo um lugar melhor, porque ela é consciente e demora 3 segundos antes de te responder porque ela reflete antes de falar e porque vocês se abraçam e não dá vontade de soltar desse abraço que é tão confortável que você até fecha os olhos em plena Avenida Paulista na hora do rush, você chega em casa e se sente feliz porque conseguiu organizar todos esses pensamentos desconexos e emoções diferentes de um dia em um texto...e tudo passa, e isso tudo já passou.
Tá tudo bem, Franco, tá tudo bem... 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Coragem, Paciência, Sabedoria e Fé.





































Coragem.
Pra mudar o que eu posso controlar.
Paciência.
Pra aceitar o que eu não posso mudar nem controlar.
Sabedoria.
Pra discernir um do outro.
Fé.
Pra enfrentar os meus medos e incertezas.










domingo, 9 de agosto de 2015

Carta ao pai incompreendido

Pai,

Você por tantos anos me obrigou a ir aos domingos á igreja católica, fato este que tanto me revoltava. Te escrevo porque, ironicamente, através do líder dela, só hoje, aos meus 33 anos recém completados eu pude de coração comprender: a família é lugar de perdão, o perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração.

Não existe família perfeita, e você logicamente foi longe de perfeito.

Você não soube valorizar minhas conquistas e qualidades,
Você não soube demonstrar carinho,
Você com sua família secreta paralela magoou todos os lados dessa história,
Você tratava minha mãe como uma idiota e incapaz,
Você que era tantas vezes tão agressivo, mas não devia entender porque eu tinha medo de você...
Eu aceito, mais importante, eu perdoo.

Só hoje perdoo que seja por falta de palavras, ou por falta de recursos, ou mesmo por falta coragem, você teve atitudes que não explicou;
Perdoo que por falta de entendimento, ou por falta de amadurecimento, tantas das suas escolhas que me revoltaram e me entristeceram;
Perdoo que tantas das suas orientações, muito mais soavam como tirania a arbitrariedade.

Só hoje posso de verdade sentir amor por você porque aprendi a perdoar suas falhas, um ser humano.

Só hoje aos 33 anos, eu pude entender quantas vezes o que me parecia punição exagerada era só sua forma de dar aquele abraço e aquele afeto que tinha tanta dificuldade de dar. Mas entenda : certos caminhos que você escolheu só hoje aos meus 33 anos eu consigo vislumbrar de verdade e de vontade essa grande responsabilidade: ser pai. Agora entendo o quanto você foi. Depois de 13 anos que você se foi, você é meu pai, você ainda continua sendo, a cada lição que aprendo.

Então agora eu quero te agradecer.

Agradeço pelos tantos aprendizados e ensinamentos que vieram só depois de tantos anos da sua morte.

Dedico esta carta a você, meu pai, e a tantos pais que ja se foram, ou que ainda estão vivos, mas que restam incompreendidos.

Porque na verdade pai, neste dia dos pais, no qual eu tanto gostaria de te dar um abraço, é que eu compreendi tanta coisa. É pai, só hoje, quando me surge a real vontade de ser pai é que eu percebi que não se trata de compreender, mas sim de perdoar.

E hoje, meu pai, eu te perdoo.

Do seu filho,

Franco


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Isto é água 2015



Essa semana me veio muito uma parábola sensacional que me marcou pra vida. O escritor do livro, como meu irmão, se matou e hoje, nesta data querida, gostaria de compartilhar com muita gente. É mais ou menos assim:
Dois peixes estão nadando e cruzam com um outro mais velho que os cumprimenta:
"E ai, meninos! O que estão achando da água?"
Os dois continuam nadando por um tempinho até que um deles olha pro outro e diz:
"Que porra é essa de água que esse cara falou?"
Eu não sou o peixe mais velho e não ache que esse será um texto cheio de lições de moral, dogmas e verdades, pois não é. Hoje, 17 de julho de 2015, completo 33 anos, e meu intuito além de escrever como sempre faço todo ano, é tentar iluminar com esse texto e com essa parábola que as vezes as realidades mais óbvias são justo aquelas que a gente não enxerga e lembrar que sim, é possível escolher sua maneira de construir significado a partir das suas experiências.
Apesar de meu aniversário ser uma data feliz, sempre trará a lembrança e tristeza de outra data tão triste, dia 30/7 do ano passado foi o dia em que meu irmão mais velho escolheu tirar a própria vida aos 35 anos.
A morte do meu irmão me deixou mais consciente para dois fatos em especial: nós escolhemos o que fazemos com a nossa vida e essas nossas escolhas diárias afetam não só nós mesmos.
Por mais devastador que seja o estado mental de alguém que se mata, existe um momento de escolha de dar apertar o gatilho e dar um tiro na própria cabeça, e daí, diante destes e outros tipos de acontecimentos que somos impotentes, que estão fora do nosso controle, o que nos resta é: como escolhemos lidar com eles?
Conversando com alguém que tanto me ensina tantas vezes sem nem saber Emoticon heart ela me diz ser pessimista em contraste á sua mãe que é otimista, que é quase inocente e acha que tudo vai dar certo. Mas fiquei pensando... Ser otimista não é achar que tudo vai dar certo. Não temos controle sobre quase nada, tantas vezes não vai sair da forma que imaginamos, o mundo não é justo milhares de vezes e não, muita coisa não vai dar certo.
Não é que eu não sinta tristeza de vez em quando, ou que seja um Cândido ou uma Pollyana Moça que acha sempre que está tudo lindo, não se trata de inocência ou de achar que vai dar tudo certo e que vai sair como planejamos. Só que sim, nós (considerando que você não tenha um desequilíbrio químico no seu cérebro e não se trate) podemos ESCOLHER SEMPRE ver os acontecimentos, por mais trágicos que sejam, por um viés positivo. Sim, ser otimista é uma escolha. Ser otimista se trata de como olhamos a vida: o copo esta meio cheio ou meio vazio? Hoje, aos meus 33 anos, eu escolho todos os dias ver ele sempre meio cheio.
Hoje celebro meu ano novo, mais um ano vivo, e estou muito feliz como no ano passado. E queria compartilhar não só minha felicidade de estar aqui, vivo, mas essa simples e óbvia consciência que tudo passa por escolhas, desde a intimidade dos nossos pensamentos até o que escolhemos para nós que afeta as vidas de outros. Essa consciência de algo tão básico e essencial que faz a gente esquecer que a cada segundo a gente escolhe, que faz a gente esquecer "que porra é essa de água."

sábado, 13 de junho de 2015

domingo, 24 de maio de 2015