Maktub.
Esta é uma palavra em árabe que significa "já estava escrito" ou "tinha que acontecer". Tento praticar Maktub na minha vida em especial desde o suicídio do meu amado irmão.
Viver com a crença de que todas as coisas que acontecem já estavam destinadas a acontecer não vai necessariamente contra a noção de livre arbítrio. Esta idéia de destino, implícita em Maktub, pode eliminar o exercício mental nefasto do "e se" e pode despertar em nós uma saudável aceitação total da sua realidade.
Depois de quase uma hora parados, eu entendo pela primeira vez em dois anos de São Paulo do que se trata o tal trânsito infernal. O cara, já bem estressado de avançar 30cm por minuto, começa uma discussão com a esposa. A discussão é idiota. Não pelo fato da catarse de discutir, mas porque existe o argumento: "é, e se você não tivesse pegado a Heitor Penteado..." e a resposta, "e se você não tivesse esquecido de comprar a bebida a gente não precisava pegar nem Heitor Penteado nem porra de rua nenhuma...". Pensar "e se" só tem uma utilidade positiva: na criação de um história fictícia. A minha primeira peça eu criei através de um "e se": ...e se amigos e amores, fossem produtos compráveis em uma fábrica(literalmente)?" Falando em ficção, esse é exatamente o ponto: "e se" não existe, é criar histórias imaginárias na sua cabeça, sejam boas ou ruins ficar na ruminação mental do "e se" é totalmente infrutífero.
Normalmente a gente pensa que a consequência que vem depois do nosso "e se" é impossível de mudar, porque já aconteceu, ou vai ser ruim. Você pensa: e se eu não tivesse viajado no dia que meu irmão morreu? E se eu pegar esse avião e ele cair? Mas você raramente pensa: E se eu chegar lá e tudo der muito certo? E se eu for pedir essa promoção no trabalho e ele me promover pra presidente?
O "e se" é nossa forma viciada, já automatizada de sair do presente, uma tentativa de tentar ter algum controle sobre o que pode acontecer, a não aceitação da sua realidade e do que já aconteceu. Mesmo se for pra pensar "e se" seguido de uma consequência boa, é também um exercício totalmente sem sentido que nos tira do presente, é gerador de ansiedade. O que quer que venha a acontecer não vai deixar de acontecer, ou acontecer com mais violência, ou acontecer com menos intensidade por causa do fato de você ter conjecturado várias possibilidades de "e se".
O que realmente acontece é que a gente escolhe. Ele escolheu pegar a Heitor Penteado, escolheu reclamar com a esposa e escolheu manter o nível de estresse alto e continuar a discussão. Escolhas sim são reais, "e se" não. Não importa o que fizeram com você, mas sim o que você escolhe fazer com o que fizeram com você, importa estar consciente e atento para escolher no que direciona sua atenção e energia, importa escolher que significado você constrói na sua cabeça a partir das experiências que vive.
Você lembra o que você fez na hora que nasceu? Gritou? Chorou? Olhou pra sua mãe? É improvável que você se lembre, mas aquele primeiro milésimo de segundo, mesmo que totalmente esquecido e instintivo, foi uma escolha. E todos os outros zilhares de milésimos de segundo da nossa vida depois do nosso nascimento.
Escolhas: algumas a gente nem percebe que faz ou nem acredita que partem de nós. E se a gente têm tanta experiência em “escolher”, porque é tão difícil e, tantas vezes, tão doloroso tomar uma decisão e acolher suas consequências? Será que é porque somos demasiado humanos e precisamos pensar nas consequências? E se eu não for capaz de aceitar o que vem depois? E se o caminho for muito difícil? E se eu ficar sozinho? E se eu errar? E se a gente esquecer um pouco do “e se”? Que tal?
Não é ignorar as consequências, mas planejar,
aceitar, abraçar e viver cada uma delas. Aceitação total da sua realidade, o que tinha que acontecer foi o que aconteceu. Estava escrito, são apenas escolhas.
As escolhas não nos definem, mas sim o escolher. Simplesmente escolha! Tudo na vida é uma escolha e toda escolha é um caminho. Não existe escolher errado, melhor ou pior na Heitor Penteado . Existe o "e se". Existe não aceitar sua realidade. E existe viver.
Maktub. |
Um blog cheio de vazios. Um blog em construção. Um projeto infinito até o fim, sem fins.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Já estava escrito
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário