quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Quando alguem deixa de existir

Estou no ônibus indo de São Paulo para o Rio olhando a paisagem. Há três meses não vou para Petrópolis, sinto saudades da minha mãe. Penso que se ela morresse agora ia ser bem ruim. Meu lado otimista vai contra esse pensamento e me faz imediatamente refletir: mas e se minha mãe de fato morresse? Como eu me sentiria se ela deixasse de existir?


Meu avô morreu há quase 30 anos, meu pai há 13 anos e meu irmão há pouco mais de um ano. Há quem possa dizer que eles deixaram de existir. Eu afirmo que eles ainda estão vivos e não deixaram de existir. A religião que sigo, e todas as religiões que já estudei e frequentei acreditam que a vida aqui é ilusão, que existe outra vida após essa da matéria, ainda assim, acredite ou não em vida pós morte ou em qualquer religião, posso afirmar que quando a gente morre a gente não deixa necessariamente de existir.
É claro que a não existência de um corpo físico é limitadora. Em momentos que gostaríamos de dar uma abraço, um beijo, sentir o cheiro da pessoa que não está aqui, não há muito o que fazer. No entanto a crença de que nós somos só matéria é ilusória. Podemos ter outras formas de olhar para essa ausência física. Uma delas é perceber o quanto de quem se foi ainda está presente depois que a pessoa morre. Um exemplo, tive recentemente, ironicamente em um dia que pensei muito em não existir.
Estava sentado, quase dormindo, triste e pensando nos rumos que tenho dado para a minha vida. Em frente a mim, um cara dormindo, apagado. De repente, do nada, o cara acorda e me olha. "Franco? Franco Fanti?" Penso: "Um fã do nosso programa." E quebro a cara dois segundos depois: "Cara seus textos são demais! Eu sou psicólogo, leio sempre e uso eles frequentemente com meus pacientes." Se eu morresse agora, posso dizer que enquanto meus textos existirem, eu existo. De uma forma parecida, meu irmão deixou um legado de 15 anos de personagens que até hoje mesmo fazendo parte desta história e tendo visto milhares de vezes os quadros, me fazem rir, me alegram, transformam meu dia e minha vida. Ainda assim estamos falando de dois exemplos que (a não ser que meus textos e estes personagens virassem parábolas memorizadas e passadas oralmente de geração para geração)  carecem de certa necessidade de matéria para que eles existam. Vou além.
Meu avô tinha uma doçura e uma generosidade que ainda que minha memória de quando eu tinha 5 anos (quando ele morreu) seja falha e remota, permanecem em mim, tanto pelo muito que minha mãe se parece com ele quanto pelo sentimento de carinho e amor que resta em mim ate hoje por ele, pelos exemplos que sigo. Situação parecida com a do meu pai.
Um dia achei uma carteira numa calçada movimentada em Petrópolis, cheia de dinheiro e com uma identidade. Não tinha google nem internet essa época, eu tinha uns 11 anos. Eu queria ficar com o dinheiro, não tinha como achar o dono. Meu pai não deixou que eu pegasse uma centavo. Não sei como conseguiu o endereço do dono, me levou para entregar em mãos e me deu a mesma quantia em dinheiro depois. Esta e várias outras lições que meu pai me deu moldam meu caráter e permeiam minhas atitudes até hoje. Treze anos depois de morto e meu pai continua vivo.
E finalmente penso no meu irmão. Apesar da depressão, da timidez, ele era um exemplo de doçura, de pai carinhoso e cuidadoso com minha sobrinha, de marido fiel e dedicado, de pessoa de caráter reto com alto senso de justiça, de artista brilhante. Todos exemplos que independem de qualquer tipo de matéria para existir na minha consciência e meu coração, exemplos nos quais eu me espelho, que direcionam e influenciam diversos aspectos da minha vida. Tenho certeza que você que lê também tem uma ou muitas pessoas que não estão mais fisicamente presentes aqui, mas reflita se eles de fato deixaram de existir na sua vida e consequentemente no mundo.
Um amigo falava que queria construir um prédio pra que depois que ele morresse houvesse algo que de alguma forma fizesse ele continuar existindo. Refleti muito sobre isso na época e cheguei a conclusão que podemos continuar existindo para muito além do concreto. Sim, eu, você e todo mundo que agora vive e que agora lê esse texto um dia vai morrer. Na tentativa de iluminar um tiquinho a minha, as nossas consciências, escrevo meus textos e tento ser o exemplo que gostaria de seguir. Se no dia que a gente se for conseguirmos mudar a forma de pensar de um ser humano, podemos de fato olhar a morte como só mais uma transformação e não o momento em que deixamos de existir. 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Aceitação #2

O primeiro passo pra vc se tornar quem vc gostaria de ser
É aceitar que vc ainda não é essa pessoa

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Aceitação #1

Eu não tenho todas as respostas
E é preciso aceitar que sem muitas eu sairei dessa vida

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Fato #1

Não importa o que fizeram com você.
O que importa é o que você faz com o que fizeram com você.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Andar com fé eu vou...



No ano de 2002, minha mãe retirou um tumor de 30 centímetros do intestino. De acordo com os exames o processo de metástase estava avançado, o que significa que o câncer já estava espalhado por vários outros órgãos. Meu pai também estava com câncer na mesma época, ela já tinha perdido uma irmã, morta aos 30 e poucos anos de câncer, e sabíamos que ela tinha muito medo dessa doença. Lembro bem desse dia de céu azul e de clima agradável em Petrópolis que minha mãe foi diagnosticada com um câncer terminal. Essa época eu não tinha fé em nada. O médico que a operou me garantiu muito fria e arrogantemente que, com perspectivas bem otimistas, ela duraria no máximo uns seis meses. Eu chorei muito e tive medo.

Treze anos se passaram e minha mãe continua bem viva. Meu pai morreu de câncer naquele mesmo ano de 2002. Dois fatores curaram minha querida velha: o tratamento de quimioterapia e radioterapia, e acima destes, o que curou minha senhora foi a fé dela em Nossa Senhora Aparecida.

Essa história da minha mãe sobre a fé é perfeitamente exemplificada com uma piada americana famosa que o Woody Allen conta no início do filme "Igual a Tudo na Vida". A piada conta que um boxeador toma uma surra no ringue, ele é massacrado. A mãe deste lutador assiste da platéia o filho ser espancado, ao lado dela, um padre. Ela pede: "Padre! Padre! Reza com fé pra ele! Reza com fé pra ele!" e o padre "Eu posso rezar, mas se ele se mexesse e socasse um pouco ajudaria muito!"
Essa piada explicita dois pontos que tem a ver com o caso da minha mãe e falam sobre a fé.

O primeiro ponto é que a fé em Deus, Nossa Senhora, seu Deus, as entidades que você acredita, em nós mesmos, em uma causa, objetivo, em si mesmo ou em alguém tem uma mesma premissa em comum: é preciso acreditar.

Já frequentei inúmeras religiões, seitas, rituais. Já li livros sagrados de diferentes fés. Sempre buscando uma doutrina que me fizesse acreditar, ter fé. Nenhuma me satisfazia, eu queria provas, fatos pra poder acreditar. Um mês e pouco antes de meu irmão se matar, eu tinha voltado a rezar. Sem acreditar muito, pedia pra conseguir ter fé, e, que se fosse necessário que algo duro acontecesse na minha vida para que eu tivesse fé, tudo bem. Ironicamente, o suicídio do meu irmão, foi o que me fez pela primeira vez depois de tanta busca, conseguir ter fé. Através desta tragédia percebi o quanto de uma escolha pessoal, e saudável ao meu ver, existe na fé. É como uma frase de um filme bem mediano, chamado Stigmata, que me marcou muito nesse sentido:
Para quem tem fé, nenhuma prova é necessária, pra quem não tem nenhuma será suficiente.

Ter fé é basicamente acreditar em algo impalpável, é uma qualidade, é uma escolha que deveria ocorrer independente de fatores externos. Você acredita porque assim escolhe. Ter fé é dar um salto no escuro num local desconhecido tendo certeza absoluta que existe um local pra você aterrisar. A física quântica diz que podemos mudar nossa realidade dependendo do que acreditamos e projetamos, existem também aqueles estudos sobre atletas que acreditam, têm fé em um resultado, e no cérebro as mesmas exatas áreas usadas no momento real da prova são ativadas, é como se eles estivessem vivendo aquilo de fato. Basta pensar: quão provável é que um atleta ganhe qualquer coisa se antes de mais nada ele não acreditar na própria vitória? Ter fé é acreditar. É preciso acreditar.
O segundo ponto sobre a fé na anedota e em todos os exemplos que dei, é que de nada adianta você ter fé, se ficar sentado esperando tudo acontecer sozinho. Se minha mãe só tivesse ficado rezando e não tivesse feito nenhum tratamento, se o atleta só acreditar e não treinar, se o boxeador ficar parado esperando que Deus resolva tudo por ele, muito provavelmente não vai bastar. É preciso acreditar e é preciso caminhar.

Como diz uma outra frase inesquecível que ouvi na peça A Alma Imoral que tento praticar constantemente: Deus não abriu o mar vermelho e então Moisés caminhou.
Moisés caminhou e o mar se abriu.

Para quem tem fé não importa se a estrada parece tortuosa, se a rua parece sem saída, se parece impossível:
Caminhemos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sobre promessas de eternidade

Não seria verdadeiro
Garantir agora
Que vou te escolher por toda a eternidade

Mas posso
Com toda verdade e vontade
Te garantir neste segundo
Que por toda a eternidade desejo querer te escolher

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Tá tudo bem.

Hoje acordei meio depressivo. O dia estava cinza, não fui trabalhar e pensei em como seria não existir. Nesses dias estou aprendendo a falar pra mim mesmo:
Tá tudo bem, Franco, tá tudo bem...

A gente precisa aprender a lidar melhor com as emoções. Emoções não matam ao contrário do que se diz repetidamente. Ninguém jamais morreu de amor, ninguém jamais morreu de tristeza, ninguém morre de de medo. As emoções são superestimadas e isso não é bom pra nós nem pras emoções coitadas. Se alguém matou ou morreu nesse mundo não foi culpa do amor ou do ódio ou da inveja, foi culpa de alguém que não lidou de forma madura e saudável com essas emoções.

Sim, Franco acredite, existem formas diferentes de sentir e de lidar com as emoções, sabia? É o que eu considero ser inteligente emocionalmente. Isso quer dizer ter domínio das emoções pra elas não causarem prejuízo e dano não só à você como aos outros. Como num dia que você acorda se sentindo depressivo com o dia cinza em São Paulo, com vontade de simplesmente não existir, e ao invés de se matar ou ficar deitado sofrendo ruminando pensamentos na cama,  você decide encontrar uma pessoa de quem gosta da companhia, sente felicidade por isso, come um pastel de nata e um café e sente prazer e depois sente compaixão pelo Alexandre morador de rua que perambula pela Paulista e tem a cara toda tatuada que parece que está suja e por isso não consegue emprego no Mcdonalds.
E passou.

Certamente vão te dizer que você perceber o que sente e ficar cada vez mais consciente do fato que é possível optar como vai lidar com suas emoções é igual a não sentir, ou é o mesmo que sentir menos. Que balela. Dominar suas emoções não quer dizer não sentir, talvez seja saber sentir... Tá tudo bem.

Certamente muitas histórias vão nos contar daquele amor que é verdadeiro, que é o amor eterno. Desculpa te decepcionar, mas não existe amor nem nenhum sentimento eterno. Existe escolher todo dia, existe regar, existe nos tornarmos eternamente responsáveis pelo que cativamos e pelo que escolhemos. Salvo se você tem um desequilíbrio químico diagnosticado no seu cérebro, as emoções não são eternas e duradouras, elas passam, todas passam.

Não se iluda, não existe UMA pessoa no mundo que tenha só emoções boas, que seja 100% feliz 7 dias da semana e 24 horas por dia, não esqueça disso. Você tá triste sim, mas tá tudo bem.

Você se sente triste porque o dia tá cinza e aquilo que você queria não saiu do jeito que você projetou, você vai ao teatro e sente raiva porque o casal foi desproporcionalmente grosseiro com você porque achou errada e injustamente que você estava furando fila só por causa do seu sotaque carioca quando você havia chegado meia hora antes deles e eles não viram, você sente uma faisquinha de um amor saudável porque a forma de pensar dela é linda, porque ela está sempre buscando ser uma pessoa melhor e fazer do mundo um lugar melhor, porque ela é consciente e demora 3 segundos antes de te responder porque ela reflete antes de falar e porque vocês se abraçam e não dá vontade de soltar desse abraço que é tão confortável que você até fecha os olhos em plena Avenida Paulista na hora do rush, você chega em casa e se sente feliz porque conseguiu organizar todos esses pensamentos desconexos e emoções diferentes de um dia em um texto...e tudo passa, e isso tudo já passou.
Tá tudo bem, Franco, tá tudo bem... 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Coragem, Paciência, Sabedoria e Fé.





































Coragem.
Pra mudar o que eu posso controlar.
Paciência.
Pra aceitar o que eu não posso mudar nem controlar.
Sabedoria.
Pra discernir um do outro.
Fé.
Pra enfrentar os meus medos e incertezas.










domingo, 9 de agosto de 2015

Carta ao pai incompreendido

Pai,

Você por tantos anos me obrigou a ir aos domingos á igreja católica, fato este que tanto me revoltava. Te escrevo porque, ironicamente, através do líder dela, só hoje, aos meus 33 anos recém completados eu pude de coração comprender: a família é lugar de perdão, o perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração.

Não existe família perfeita, e você logicamente foi longe de perfeito.

Você não soube valorizar minhas conquistas e qualidades,
Você não soube demonstrar carinho,
Você com sua família secreta paralela magoou todos os lados dessa história,
Você tratava minha mãe como uma idiota e incapaz,
Você que era tantas vezes tão agressivo, mas não devia entender porque eu tinha medo de você...
Eu aceito, mais importante, eu perdoo.

Só hoje perdoo que seja por falta de palavras, ou por falta de recursos, ou mesmo por falta coragem, você teve atitudes que não explicou;
Perdoo que por falta de entendimento, ou por falta de amadurecimento, tantas das suas escolhas que me revoltaram e me entristeceram;
Perdoo que tantas das suas orientações, muito mais soavam como tirania a arbitrariedade.

Só hoje posso de verdade sentir amor por você porque aprendi a perdoar suas falhas, um ser humano.

Só hoje aos 33 anos, eu pude entender quantas vezes o que me parecia punição exagerada era só sua forma de dar aquele abraço e aquele afeto que tinha tanta dificuldade de dar. Mas entenda : certos caminhos que você escolheu só hoje aos meus 33 anos eu consigo vislumbrar de verdade e de vontade essa grande responsabilidade: ser pai. Agora entendo o quanto você foi. Depois de 13 anos que você se foi, você é meu pai, você ainda continua sendo, a cada lição que aprendo.

Então agora eu quero te agradecer.

Agradeço pelos tantos aprendizados e ensinamentos que vieram só depois de tantos anos da sua morte.

Dedico esta carta a você, meu pai, e a tantos pais que ja se foram, ou que ainda estão vivos, mas que restam incompreendidos.

Porque na verdade pai, neste dia dos pais, no qual eu tanto gostaria de te dar um abraço, é que eu compreendi tanta coisa. É pai, só hoje, quando me surge a real vontade de ser pai é que eu percebi que não se trata de compreender, mas sim de perdoar.

E hoje, meu pai, eu te perdoo.

Do seu filho,

Franco


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Isto é água 2015



Essa semana me veio muito uma parábola sensacional que me marcou pra vida. O escritor do livro, como meu irmão, se matou e hoje, nesta data querida, gostaria de compartilhar com muita gente. É mais ou menos assim:
Dois peixes estão nadando e cruzam com um outro mais velho que os cumprimenta:
"E ai, meninos! O que estão achando da água?"
Os dois continuam nadando por um tempinho até que um deles olha pro outro e diz:
"Que porra é essa de água que esse cara falou?"
Eu não sou o peixe mais velho e não ache que esse será um texto cheio de lições de moral, dogmas e verdades, pois não é. Hoje, 17 de julho de 2015, completo 33 anos, e meu intuito além de escrever como sempre faço todo ano, é tentar iluminar com esse texto e com essa parábola que as vezes as realidades mais óbvias são justo aquelas que a gente não enxerga e lembrar que sim, é possível escolher sua maneira de construir significado a partir das suas experiências.
Apesar de meu aniversário ser uma data feliz, sempre trará a lembrança e tristeza de outra data tão triste, dia 30/7 do ano passado foi o dia em que meu irmão mais velho escolheu tirar a própria vida aos 35 anos.
A morte do meu irmão me deixou mais consciente para dois fatos em especial: nós escolhemos o que fazemos com a nossa vida e essas nossas escolhas diárias afetam não só nós mesmos.
Por mais devastador que seja o estado mental de alguém que se mata, existe um momento de escolha de dar apertar o gatilho e dar um tiro na própria cabeça, e daí, diante destes e outros tipos de acontecimentos que somos impotentes, que estão fora do nosso controle, o que nos resta é: como escolhemos lidar com eles?
Conversando com alguém que tanto me ensina tantas vezes sem nem saber Emoticon heart ela me diz ser pessimista em contraste á sua mãe que é otimista, que é quase inocente e acha que tudo vai dar certo. Mas fiquei pensando... Ser otimista não é achar que tudo vai dar certo. Não temos controle sobre quase nada, tantas vezes não vai sair da forma que imaginamos, o mundo não é justo milhares de vezes e não, muita coisa não vai dar certo.
Não é que eu não sinta tristeza de vez em quando, ou que seja um Cândido ou uma Pollyana Moça que acha sempre que está tudo lindo, não se trata de inocência ou de achar que vai dar tudo certo e que vai sair como planejamos. Só que sim, nós (considerando que você não tenha um desequilíbrio químico no seu cérebro e não se trate) podemos ESCOLHER SEMPRE ver os acontecimentos, por mais trágicos que sejam, por um viés positivo. Sim, ser otimista é uma escolha. Ser otimista se trata de como olhamos a vida: o copo esta meio cheio ou meio vazio? Hoje, aos meus 33 anos, eu escolho todos os dias ver ele sempre meio cheio.
Hoje celebro meu ano novo, mais um ano vivo, e estou muito feliz como no ano passado. E queria compartilhar não só minha felicidade de estar aqui, vivo, mas essa simples e óbvia consciência que tudo passa por escolhas, desde a intimidade dos nossos pensamentos até o que escolhemos para nós que afeta as vidas de outros. Essa consciência de algo tão básico e essencial que faz a gente esquecer que a cada segundo a gente escolhe, que faz a gente esquecer "que porra é essa de água."

sábado, 13 de junho de 2015

domingo, 24 de maio de 2015

terça-feira, 19 de maio de 2015

então você quer ser escritor?


se não sai explodindo de você
apesar de tudo,
não seja.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da sua cabeça, da sua boca
das suas entranhas,
não seja.
se tem que ficar horas sentado
olhando para tela do computador
procurando as palavras,
não seja.
se é por dinheiro ou
fama,
não seja.
se é para ter
mulheres na tua cama,
não seja.
se dá trabalho só pensar em ser,
não seja.
se tenta escrever como outros escreveram,
não seja.
se tem que esperar para que saia de você
gritando,
então espera pacientemente.
se nunca sair de você gritando,
seja outra coisa.
se tem que ler primeiro pra sua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou quem quer que seja,
não está preparado.
não seja como muitos escritores,
não seja como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não seja chato, nem ranzinza e
pedante, não se consuma com
auto-devoção. (nem auto-adoração)
as bibliotecas do mundo todo têm
bocejado até durmir
com os da sua espécie.
não seja mais um.
não seja.

a menos que saia da
sua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não seja.

a menos que o sol dentro de você
queime as suas tripas,
não seja.
quando chegar mesmo a altura,
e se foi escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará acontecendo
até que você morras ou que morra em você.
não há outra alternativa.
e nunca houve.
....

Se você quer ser
você já não é

Fato
























mais importante que olhar o fato
é meu olhar sobre o fato
isso é fato

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Nem aí.




Eu. 

Ela. 

Eu e ela. 

Ela lá.

Eu aqui.


Hoje, aqui, eu acredito que estando ela lá, ou aqui, o sentimento está sempre aqui. 

É... 

O sentimento está aqui...
Enquanto ela continua se fazendo presente por aqui mesmo estando lá. 
Seria tão bom se ela estivesse aqui... 

Só que ela esta lá. 
Mas é como se eu estivesse lá, porque estando o sentimento aqui comigo é como se ela estivesse aqui também, apesar de eu estar aqui e ela lá. 

Lá é tão longe... 

Mas tem dias que desejo tanto ela aqui que é como se eu estivesse lá, ou como se ela estivesse aqui comigo. 
aqui comigo no meu canto por vezes penso : 
Olha lá hein? Não vai ficar aqui dando uma de idiota, bobo, apaixonadinho! 
Vocês ainda não estão nem lá, nem cá,  ela ainda está lá e pode ser que não esteja nem aí.

Mas quer saber? 
Ela lá ou aqui, a gente nem lá, nem cá, não to nem aí! 
Sei o que eu sinto aqui e parece que ela também sente parecido lá. 
Se por lá é recíproco mesmo, não tem como saber: o que é dela é só dela lá e o meu é só meu aqui. 

Mas pra não ficar neste sentimento nem lá nem cá eu decidi: 
Esteja ela lá ou aqui, o que sinto aqui dentro é bonito e bom demais e não está mais aqui quem há pouco falou que não estava nem aí!
É, mas... 
Aqui... 
Posso confessar uma coisa? 

Eu sinto que eu estou quase lá de novo. 
É! 
Lá!
Quando um sentimento vai crescendo tão forte, tão enorme aqui dentro que se tem eu + ela, aqui, lá ou em qualquer lugar, o mundo pode acabar, a galáxia explodir, o universo desaparecer...
e eu?
Não to nem aí.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

terça-feira, 12 de maio de 2015

Immortality


Gabriel falou que o Ornitorrinco chegou ao fim. Eu nunca aceitei o fim. Eu não entendia o que era terminar. É preciso aceitar o fim, os finais. O que se repete é culpa da minha vontade de não deixar que um ciclo se feche, meu apego ao que conheço, á repetição, meu medo de finalizar. É preciso aceitar o fim. Cada fim é um começo e cada começo é um fim. Tudo o que já passou deixou a sua marca, tudo o que já se foi continua sendo. Tudo o que terminou, não acabou, apenas se transformou. Eu não aceitava o fim, eu pensava que o que terminava para sempre me abandonava, ficando em um passado intangível. O que acabou jamais me abandona, apenas se transforma. Tudo o que terminei, tudo o que comecei, tudo faz parte de mim. Final e começo não são muito diferentes. Aprendi a aceitar o fim e consegui vislumbrar o que é ser eterno.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Contradição Minha

I






















não fico feliz que saia de minhas paisagens
mas sou só sorrisos por ela decolando pra outras terras
não pretendo cercear liberdades
mas queria ela amarrada aos meus abraços
amaria ficar na prisão do abismo que é cheirar e beijar aquela nuca 
moveria montanhas pra que de mim não se distanciasse
mas torço entusiasmado pra que ela vá longe
não gosto de poesia
mas o que é isso que eu tô escrevendo agora?!
ah essa mulher...
que não posso nem quero possuir
mas me faz ter vontade enorme de chamar de Minha

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Não quero acertar, mas não quer dizer que queira errar e por isso não sei escolher um título para esse texto

nunca levei porrada, nunca fui perdedor
quero muito acertar, eu quero muito vencer
quero a roupa combinando, mesmo que não combine
quero a fala engraçada na hora exata
quero tirar uma nota boa
quero ser bom no que faço
quero o texto perfeito como eu queria que esse fosse até eu estragar ele no meio com uma longa sequência de palavras desnecessárias como estas que eu estou escrevendo agora sem dar tempo para meu racional editar e tentar consertar algo totalmente repetitivo e idiota e sem pontuação como essa parte do texto onde eu falo muitas coisas mas não falo nada o que as vezes é bom pra desopilar os pensamentos e botar tudo de repetitivo que se repete e é redundante quando tentamos através das palavras ficar explicando o que não precisa ser explicado e de repente você está no meio de uma frase e talvez perceba que não precisa ir até o fim dela mas onde é o fim?
me diga, quem é que não quer sair vencedor sempre?
eu não quero mais ser um vencedor
quero só existir, só fazer, só ser humano e saber
que há muita vitória em saber perder
que há enorme acerto em saber errar
e saber
que não querer vencer não é igual a querer perder
que não almejar só o acerto não me leva ao erro

sábado, 25 de abril de 2015

Um texto sem palavras





















eu não sei o que
sei que quis vir aqui escrever
falar dessa inspiração que ela me traz, sabe?
um textinho pra essa coisa boa só de pensar
uma palavra pra esse sorriso que brota quando olho pra ela
um substantivo pra essa sensação dela caminhando na minha direção na Matheus Grou
um adjetivo maravilhoso pra isso de mergulhar no pescoço e nos cheiros
um advérbio tão tão doce quanto trocar carinho com ela
um verbo pra esse pausar quando nos beijamos
um texto bonito, um texto inspirado nela, pra ela
É...
As vezes a gente escreve escreve e escreve
E fica feliz de não ter palavras

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Em busca do verdadeiro amor




























Ando em busca do verdadeiro amor. Lendo esse título é difícil não pensarmos imediatamente no amor, em amar e sermos amados, difícil não associarmos esse amar e sermos amados, ao romance entre duas pessoas, a um relacionamento. E se não aos amantes então associamos o verdadeiro amor aos pais, a um filho, ao melhor amigo, enfim, aos mais próximos e queridos. Mas o verdadeiro, mais sublime e difícil amor de se cultivar não é o desses exemplos.

No uso diário desse amor que eu vou falar aqui neste texto, quase todos nós somos bem medíocres.
Quando uso medíocre, eu não quero dizer com a conotação negativa que essa palavra carrega, mas medíocre no sentido literal de estarmos assim, meio marromeno, meia boca, bem aquém do nosso potencial máximo de amar.

Hoje sigo o a linha do Mestre Irineu do Santo Daime, e este caminho me torna uma pessoa ais doce. Mas penso que acima de qualquer religião existem princípios e exemplos que se seguidos fariam a existência de todos melhor e mais fácil, e se é bom pra todo mundo, é bom pra TODO o mundo. Já frequentei inúmeras religiões, de Umbanda, passando por Budismo até Metodistas, posso dizer que peguei algo de positivo de todas. Um destes exemplos, é o personagem de Jesus.

Digo personagem porque pouco importa se você não acha que a história da bíblia é real, se Jesus existiu de fato, se você é ateu ou pastor evangélico, acima das nossas crenças e fé deveriam importar os exemplos e ensinamentos de amor que podemos tirar desta entidade e de sua história. Fiquei pensando na profundidade e utilidade de:

Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei. 

Se nós amássemos aos outros, de verdade, como nos amamos, tenho certeza que o mundo seria melhor.  Essa compaixão e paciência que estou aprendendo a ter com meus erros, minhas ausências e minhas mesquinharias, quero cada vez mais ter com as falhas e vacilos dos outros. Mas sabemos quem nem todo mundo se ama, e muita gente nem sabe disso, então tratar um completo estranho como eu me trato? É difícil.

Se nós amássemos aos outros, pelo menos como amamos nossa família, nossos amigos, não tenho dúvida que a vida seria mais justa pra todo mundo. Mas tratar um desconhecido como tratamos nossos mais chegados? É bem difícil.

Aí você começa a dirigir e pensa nisso tudo. Um otário te dá uma fechada violenta no trânsito. Você olha a revista na banca e vê aquele filho da puta milionário que deu propina para um político desgraçado que usou dinheiro público pra comprar a ilha dele em Angra onde dá festas regadas a MUM e putas, e quando chega na repartição pública uma vagabunda te atende muito mal e tem uma má vontade escrota pra te ajudar a resolver o seu problema. Eis uma ótima oportunidade. Com certeza a gente não sentiria a mesma raiva do otário, do filho da puta, do desgraçado e da vagabunda, se eles fossem respectivamente seu pai, seu irmão, seu melhor amigo e sua mãe. Estranhos que nos causam ódio mereciam a mesma paciência e compaixão que a gente tem, ou tenta ter, com os nossos mais chegados e queridos, com nós mesmos.

Agora imagine um bilionário que explora seus funcionários ao extremo para acumular mais e mais para si e pros seus, resolve olhar o seu empregado do mais baixo escalão com o mesmo carinho e generosidade que olha pros seus filhos, pra si mesmo. E aqui não falo de dar mais grana ou dar bens materiais, porque seria fácil demais e seria pressupor que todas as pessoas alcancem a plenitude buscando e satisfazendo seus desejos materiais. Imagine um olhar desse milionário para esse funcionário, um olhar de estar verdadeiramente preocupado com que esse ser humano atingisse o que quer que fosse sua idéia de plenitude e prosperidade. E aí imagine que esse mesmo empregado tem o mesmo olhar pro seu empregador. É desse amar que eu falo.

Porque no amai-vos uns aos outros não existe hierarquia, mas quando a gente vê um exemplo de poder e opressão a gente pensa sempre que só com o oprimido que temos que ter compaixão e amor, o opressor que se exploda. Somos todos iguais, todos fazemos coco, todos temos que respirar pra viver, estamos todos conectados e não há olhar de baixo pra cima ou de cima pra baixo. Somos todos humanos, estamos todos aqui, juntos, vivos, co-existindo de forma as vezes mais direta, as vezes mais indireta, mas sempre parte de um só filme onde o que quer que eu altere na minha parte da história eu altero a sua parte da história, eu altero o filme todo. Por isso disse que considero esse amor o mais sublime de todos, porque esse de fato requer paciência, superação, doçura e amor acima da média, amor bem acima do nossa forma medíocre de amar.

Eu tenho buscado esse amor, um exercício, diário, constante e infinito ainda mais morando em uma cidade tão cheia de gente como São Paulo. Acho que por mais surreal que pareça, se eu conseguir amar um estranho que me irrita como amo os meus, ou pelo menos tentar este caminho, estou concretamente contribuindo pra que haja alguma melhora no mundo. All we need is love. Imagine se todos amassem uns aos outros assim... Se pelo menos tentassem... E que tal começarmos por mim e por você? Pensando e agindo assim a partir de agora?

Dedico este texto ao otário da Land Rover preta que há 2 horas atrás me deu uma fechada na Aimberé com Heitor Penteado e ainda me mandou ir tomar no cu.
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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Cabo Polonio, Montevidéu e o olhar de turista

Playa Sur - Cabo Polonio - Uruguai


Quando comecei a escrever este texto estava no escuro no ônibus voltando de um lugar chamado Cabo Polonio. Cabo Polonio é uma vila de pescadores de cerca de 60 habitantes que está dentro de um Parque Nacional na costa do Uruguai. Lá não tem sistema de eletricidade e o acesso só é possível indo a pé pelas dunas ou com veículo 4 x 4 pelos 7 km de distância que separam o vilarejo do terminal de ônibus mais próximo, perto da entrada do Parque. Só estes fatos por si só já dão um encanto ao lugar, mas Cabo Polonio e Montevidéu me encantaram mais pelas reflexões e aprendizados que tive através de experiências simples que vivi.

Ainda que possa parecer, este texto não pretende ser algum tipo de registro de memórias desta experiência ( apesar de que naturalmente seja em alguma medida). Este texto também não pretende ser um guia turístico sobre os locais que estive, talvez um registro das reflexões e dos sentimentos que ficaram em mim, depois de 24h em Cabo Polonio e uma semana em Montevidéu.


Eis o que vivi em Cabo Polonio: Eu vi um sol se pondo que me fez chorar igual um bocó e de tão lindo seria inútil tentar qualquer descrição, eu vi o sol nascer ao lado de leões marinhos (que em sua maior parte estavam ali no continente para morrer, já que os jovens e saudáveis ficam numa ilha abarrotada deles em frente a Cabo, de onde no raiar do sol se ouve nitidamente seus gritos ou rugidos ou sei lá como se fala) este amanhecer que de tão mágico me faz carregar um sentimento inédito e indescritível comigo até agora, eu fiz um som no entardecer com um amigo desconhecido que me ofereceu fumar flores plantadas no seu jardim (flores é como chamam a maconha não prensada, e de consumo legal pra quem não sabe, no Uruguai) enquanto eu tocava bongô, ele violão e cantávamos de frente pro mar no Hostel, eu comi a melhor batata frita com molho de camarão picante da minha vida, eu peguei jacaré por horas e horas num mar de ondas perfeitas, eu encontrei um leão marinho morto num local isolado em frente às dunas, eu dormi na rede vendo um céu extremamente estrelado de um jeito que não via há anos.

Eu não tenho absolutamente nada de registro concreto disso tudo. Eu não tirei nenhuma foto de Cabo e isso me fez estar muito presente em cada uma destas experiências. E o irônico é que, paradoxalmente, se essa visita a Cabo foi assim inesquecível penso que foi justo por esta falta de registro.

Quando estamos viajando é mais recorrente não pensar na conta pra pagar amanhã, ou no pepino que não resolveu ontem no trabalho, vivemos mais o agora. Só que por outro lado temos a forte tendência de querer registrar tudo, seja com foto, souvenirs ou cadernos de viagem. Porque a gente precisa arrumar formas de recordar tudo? Ao meu ver isso nos faz menos conectados com o agora. Me lembro de uma cena do Sean Penn num filme que achei mediano, mas que me marcou, A Vida Secreta de Walter Mitty. O fotógrafo que ele interpreta está no alto das montanhas há muito tempo tentando tirar uma foto histórica do Leopardo Fantasma (que tem esse nome pela raridade de ser visto). Até que ele avista o bicho pela primeira vez, mas não bate a foto. Ele diz que se registrasse não iria viver tão intensamente a beleza do momento. Querer arrumar formas de registrar, não ajuda a viver a beleza de cada momento sabendo que ele é único e passageiro, não é o olhar do turista do qual eu falo aqui.

Quantas vezes por semana você pára pra contemplar o por do sol na cidade que você vive? E pra ver o sol nascer? E passear com calma olhando as pessoas, a paisagem, os prédios? Logicamente que quando não estamos de férias a rotina de trabalho e falta de tempo, em especial em cidades grandes como São Paulo, não costumam permitir estes tipos de atividades com frequência, mas meu ponto é que se trata de algo além da falta de tempo, se trata de um mind set, de uma forma de olhar a realidade, o tal olhar de turista.

O que se passou em Cabo, foi muito único, mas no sentido do que refleti nessa viagem foi bem parecido com o que aconteceu em Montevidéu: o olhar de turista.

Criança observando os lobos marinhos em Cabo Polonio.
Eu achei Montevidéu bem linda, mas penso que isso é questionável. Algumas vezes parava pra contemplar velhinhos andando, a arquitetura do prédio na esquina, as árvores, a vida das pessoas na varanda. Os moradores me olhavam meio sem entender o que eu via de bonito. Olhar de turista é essa generosidade no olhar, de ver beleza nas coisas simples, de ver o feio um pouco mais bonito e interessante, essa constante descoberta do novo, de ter um olhar de criança que está conhecendo todo um mundo à sua volta. Digo um olhar porque o que me pareceu claro nessa viagem é que se trata em parte do lugar ser agradável e bonito como eu achei Montevidéu, mas se trata muito mais dessa forma de pensar e olhar seu entorno. Ou não seria possível caminhar no centro de São Paulo e achar beleza?


Esse olhar de turista (em especial viajando sozinho) ao te ensinar a estar mais presente, pode também te ajudar a olhar situações sem querer se agarrar a elas. Como exemplo teve tudo de sensacional que mencionei que vivi em Cabo e não registrei, e também os momentos fodas que vivi com várias pessoas incríveis de vários lugares em Montevidéu.

Dentre elas teve um francês que estava viajando pelo mundo há dois anos. Passeei a pé pelas ramblas de Montevidéu um dia inteiro, conversamos sobre a vida dele nestes dois anos, discutimos muitos assuntos profundos e interessantes, um cara que poderia ser dos meus melhores amigos. Foi demais. Depois teve uma sueca linda de assustar com quem divivi o quarto.  Ela foi daquelas pessoas que bate o santo, que você conhece e em segundos te entende no olhar, que apesar das milhares de milhas de distância e diferenças culturais, vocês se divertem muito depois de 5 minutos que se conheceram. Acordamos, tomamos café, almoçamos e caminhamos manhã e tarde pelo Centro de Montevidéu antes dela ir embora. Foi sensacional. Não tenho nenhum registro destes dois encontros.

Só um improvável conjunto de situações muito favoráveis faria um outro encontro entre eu e estas duas pessoas acontecer, mas fiquei muito feliz de ter vivido momentos inesquecíveis com eles. Eu estava muito presente. Se eu me apegasse e me chateasse a cada despedida deste tipo de pessoas sensacionais que eu conheci e queria ter pra sempre na minha vida, eu também não estaria tendo o olhar de turista que falo.

Acho que de todas as viagens que fiz, essa de fato me fez entender e trazer esse olhar de turista pra minha vida, tantas vezes tão dura aqui em São Paulo. Hoje no fim de tarde, nadando contra a corrente, no meio de um ritmo frenético de milhões de pessoas apressadas, muito concreto e carros, eu caminhei calmamente pela Avenida Paulista na hora do rush, observando as pessoas. Depois peguei minha bicicleta e contemplei velhinhos andando, a arquitetura do prédio na esquina, as árvores, a vida das pessoas na varanda, até chegar à Praça do Por do Sol.
Hoje eu vi o sol se por em São Paulo. Foi lindo.

Praça do Por do Sol - SP (essa foto não fui eu que tirei )

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

É mais fácil ser feliz onde as ruas não tem nome



Quem nunca se sentiu mais vivo e pleno num desse locais paradisíacos, isolados onde a natureza impera? Quem nunca fez uma viagem de imersão e contato profundo com a natureza e pensou em ficar? Especialmente quando você vem de uma viagem dessas e volta para uma megalópole como São Paulo, onde eu vivo hoje, é difícil não questionar sua vida, seus valores e se você quer mesmo ficar na cidade grande ou se quer viver uma vida mais simples e tranquila.

Tanto na virada do ano passado 2013 para 2014, como na de um mês atrás, 2014 para 2015, estava em lugares destes que te fazem resignificar sua existência: numa fazenda no interior do Espírito Santo e no Vale do Capão. Veja este vídeo e este vídeo se quiser ter uma noção melhor destes dois locais que falo. Fato é que é mais fácil ser feliz em locais como esses.

A começar porque em lugares assim se come muito bem todos os dias. Os temperos são da nossa horta, as frutas são do quintal, quem faz a comida é "ele ali" que traz daquela plantação do jardim de casa. A falta de tantos intermediários e de uma relação mais capitalista, agressivinha e alienada de consumo, dá um sabor diferente e especial ao que se come, sem falar na menor quantidade de conservantes e afins. Você vê de onde vem e como vem. E mesmo o que não é da sua horta é logo ali do vizinho. O vizinho tem nome, ele é um humano que você conversa e conhece pessoalmente.

Lugares como esses são menos povoados e esse fato, por si só, logicamente já humaniza mais as pessoas e as relações. Algumas vezes aconteceu de alguém não ter troco, e ok, outro dia você me paga. O nivel de confiança no outro parece ser maior, isso por si só já diminui a tensão nas relações, é mas fácil conhecer e confiar em "estranhos" e é óbvio que isso é saudável. Em lugares como estes eu adoro cumprimentar pessoas aleatórias e nunca me sinto estranho ou louco por fazer isso porque sempre me respondem e me cumprimentam.Tenta cumprimentar um estranho numa cidade grande e a provável reação que você costuma ter é de estranhamento do tipo não te conheço você é louco ou psicopata, ou desprezo total.

Eu e alguns totais estranhos que tive o grande prazer de ter como amigos. Pratinha - Foto: Arthur Schimidt

Um dia no Espírito Santo a gente se perdeu numa estrada de terra e a indicação era sempre a direita ou a esquerda, na casa do João, na fazenda do Beto, na venda da Graça. As ruas não tem nome, mas as pessoas tem. Elas são mais pessoas, e não mais um na multidão, é mais fácil que elas se conheçam pelo nome.

As nossa conversa é mais focada e presente porque você tem acesso limitado ou nenhum acesso a telefone, internet, whatsapp, facebook, e esses milhões de outras coisas pra nos distrair o tempo todo, algumas ferramentas que deveriam servir pra nos conectar, mas debochadamente acabam nos distanciando na maioria das vezes. É batido e cliché falar isso, mas é real, porque se você não tem sinal de celular nem telefone fixo pra falar com o João do alface, você tem que ir fisicamente até ele. Você relembra que tantas coisas que parecem tão necessárias como seu celular, não são assim tão necessárias. Se você não tem milhões de gadgets e aparelhos e acontecimentos, o acontecimento é existir, a distração é contemplar, a conversa é com você mesmo ou olho no olho com quem te acompanha.

Eu, só existindo no terraço da nossa casa no Capão. Foto- Arthur Schimidt

Estes tipos de lugar te fazem perder a noção de tempo, é muito comum não saber que dia da semana e do mês você está. O tempo é menos preciso, em grande parte porque você não usa medidores de tempo, seja relógio ou celular, e não tem hora pra nada. A hora de acordar é a que acordar. A hora de comer é quando dá fome, a hora de dormir é quando dá sono. E como você não tem tanta distração e informação pra pensar no que vai ser o amanhã ou pra te relembrar o que aconteceu ontem, você tende a ficar muito mais no agora, no momento, o que dá uma sensação de dilatação ou de falta de noção do tempo, e consequente plenitude, felicidade, me lembra aquela famosa expressão em inglês: natural high. E esse estar presente, essa falta de noção de tempo, te faz ter outras perspectivas sobre tudo, sobre por exemplo pensar que a vida são esses "grandes" momentos, quando eu casar, quando eu tiver um filho, minha casa, ou quando o que quer que seja um grande momento pra você, e na realidade a vida é cada agora, cada momento, cada experiência simples e singular que é ser, existir.


Pôr do Sol no Morro do Pai Inácio - Foto: Lud Campos

É necessário ter dinheiro, ok, e não pretendo fazer o discurso metidinho a naturalista que romantiza lugares lindos como estes, mas fica tão evidente que existem milhões de coisas tão simples e que dinheiro não compra que te deixam em estado de plenitude, satisfação e alegria, que é difícil não romantizar. Ficar de pés pro alto vendo a paisagem na rede, dormir na sombra de uma pedra ouvindo o som da cachoeira em rodas, mergulhar num poço natural de Mucugezinho, ficar bem embaixo da cachoeira deliciosamente gelada da Purificação, escutar o barulho do vento batendo no capim na trilha pra Aguas Claras, ver um por do sol inesquecível no Morro do Pai Inácio... Tudo de graça. Seja você milionário ou mendigo, diante da natureza todos nós somos só humanos, uma fração de um pixel existindo no universo.

Arthur flutuando e sorrindo, e o olhar incrédulo da menina no canto. Poço de Águas Claras - Foto: Lud Campos

Já romantizando pra cacete, não pretendo com esse texto falar destes lugares como se fossem um Sítio do Pica Pau Amarelo escrito pela Pollyana Moça. Defeitos existem, locais menos povoados não são perfeitos, mas não pude sentir tanto porque não fiquei tempo substancial pra perceber. Não tenho como saber com certeza como seria esse mesmo texto caso essa experiência que descrevi aqui virasse minha rotina. Mas o fato é que mesmo temporariamente, a vida me parece mais viva, a gente é mais humano, viver parece menos automático e melhor. Visitar este tipo de lugar me deixa mais destemido, pra arriscar e viver, porque se tudo der errado e eu falir na cidade grande posso sempre me mudar pra um desses lugares onde parece mais fácil e simples viver em estado de plenitude, lugares onde a estrada é de terra e as ruas não tem nome, mas as pessoas tem.