segunda-feira, 27 de abril de 2015

Não quero acertar, mas não quer dizer que queira errar e por isso não sei escolher um título para esse texto

nunca levei porrada, nunca fui perdedor
quero muito acertar, eu quero muito vencer
quero a roupa combinando, mesmo que não combine
quero a fala engraçada na hora exata
quero tirar uma nota boa
quero ser bom no que faço
quero o texto perfeito como eu queria que esse fosse até eu estragar ele no meio com uma longa sequência de palavras desnecessárias como estas que eu estou escrevendo agora sem dar tempo para meu racional editar e tentar consertar algo totalmente repetitivo e idiota e sem pontuação como essa parte do texto onde eu falo muitas coisas mas não falo nada o que as vezes é bom pra desopilar os pensamentos e botar tudo de repetitivo que se repete e é redundante quando tentamos através das palavras ficar explicando o que não precisa ser explicado e de repente você está no meio de uma frase e talvez perceba que não precisa ir até o fim dela mas onde é o fim?
me diga, quem é que não quer sair vencedor sempre?
eu não quero mais ser um vencedor
quero só existir, só fazer, só ser humano e saber
que há muita vitória em saber perder
que há enorme acerto em saber errar
e saber
que não querer vencer não é igual a querer perder
que não almejar só o acerto não me leva ao erro

sábado, 25 de abril de 2015

Um texto sem palavras





















eu não sei o que
sei que quis vir aqui escrever
falar dessa inspiração que ela me traz, sabe?
um textinho pra essa coisa boa só de pensar
uma palavra pra esse sorriso que brota quando olho pra ela
um substantivo pra essa sensação dela caminhando na minha direção na Matheus Grou
um adjetivo maravilhoso pra isso de mergulhar no pescoço e nos cheiros
um advérbio tão tão doce quanto trocar carinho com ela
um verbo pra esse pausar quando nos beijamos
um texto bonito, um texto inspirado nela, pra ela
É...
As vezes a gente escreve escreve e escreve
E fica feliz de não ter palavras

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Em busca do verdadeiro amor




























Ando em busca do verdadeiro amor. Lendo esse título é difícil não pensarmos imediatamente no amor, em amar e sermos amados, difícil não associarmos esse amar e sermos amados, ao romance entre duas pessoas, a um relacionamento. E se não aos amantes então associamos o verdadeiro amor aos pais, a um filho, ao melhor amigo, enfim, aos mais próximos e queridos. Mas o verdadeiro, mais sublime e difícil amor de se cultivar não é o desses exemplos.

No uso diário desse amor que eu vou falar aqui neste texto, quase todos nós somos bem medíocres.
Quando uso medíocre, eu não quero dizer com a conotação negativa que essa palavra carrega, mas medíocre no sentido literal de estarmos assim, meio marromeno, meia boca, bem aquém do nosso potencial máximo de amar.

Hoje sigo o a linha do Mestre Irineu do Santo Daime, e este caminho me torna uma pessoa ais doce. Mas penso que acima de qualquer religião existem princípios e exemplos que se seguidos fariam a existência de todos melhor e mais fácil, e se é bom pra todo mundo, é bom pra TODO o mundo. Já frequentei inúmeras religiões, de Umbanda, passando por Budismo até Metodistas, posso dizer que peguei algo de positivo de todas. Um destes exemplos, é o personagem de Jesus.

Digo personagem porque pouco importa se você não acha que a história da bíblia é real, se Jesus existiu de fato, se você é ateu ou pastor evangélico, acima das nossas crenças e fé deveriam importar os exemplos e ensinamentos de amor que podemos tirar desta entidade e de sua história. Fiquei pensando na profundidade e utilidade de:

Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei. 

Se nós amássemos aos outros, de verdade, como nos amamos, tenho certeza que o mundo seria melhor.  Essa compaixão e paciência que estou aprendendo a ter com meus erros, minhas ausências e minhas mesquinharias, quero cada vez mais ter com as falhas e vacilos dos outros. Mas sabemos quem nem todo mundo se ama, e muita gente nem sabe disso, então tratar um completo estranho como eu me trato? É difícil.

Se nós amássemos aos outros, pelo menos como amamos nossa família, nossos amigos, não tenho dúvida que a vida seria mais justa pra todo mundo. Mas tratar um desconhecido como tratamos nossos mais chegados? É bem difícil.

Aí você começa a dirigir e pensa nisso tudo. Um otário te dá uma fechada violenta no trânsito. Você olha a revista na banca e vê aquele filho da puta milionário que deu propina para um político desgraçado que usou dinheiro público pra comprar a ilha dele em Angra onde dá festas regadas a MUM e putas, e quando chega na repartição pública uma vagabunda te atende muito mal e tem uma má vontade escrota pra te ajudar a resolver o seu problema. Eis uma ótima oportunidade. Com certeza a gente não sentiria a mesma raiva do otário, do filho da puta, do desgraçado e da vagabunda, se eles fossem respectivamente seu pai, seu irmão, seu melhor amigo e sua mãe. Estranhos que nos causam ódio mereciam a mesma paciência e compaixão que a gente tem, ou tenta ter, com os nossos mais chegados e queridos, com nós mesmos.

Agora imagine um bilionário que explora seus funcionários ao extremo para acumular mais e mais para si e pros seus, resolve olhar o seu empregado do mais baixo escalão com o mesmo carinho e generosidade que olha pros seus filhos, pra si mesmo. E aqui não falo de dar mais grana ou dar bens materiais, porque seria fácil demais e seria pressupor que todas as pessoas alcancem a plenitude buscando e satisfazendo seus desejos materiais. Imagine um olhar desse milionário para esse funcionário, um olhar de estar verdadeiramente preocupado com que esse ser humano atingisse o que quer que fosse sua idéia de plenitude e prosperidade. E aí imagine que esse mesmo empregado tem o mesmo olhar pro seu empregador. É desse amar que eu falo.

Porque no amai-vos uns aos outros não existe hierarquia, mas quando a gente vê um exemplo de poder e opressão a gente pensa sempre que só com o oprimido que temos que ter compaixão e amor, o opressor que se exploda. Somos todos iguais, todos fazemos coco, todos temos que respirar pra viver, estamos todos conectados e não há olhar de baixo pra cima ou de cima pra baixo. Somos todos humanos, estamos todos aqui, juntos, vivos, co-existindo de forma as vezes mais direta, as vezes mais indireta, mas sempre parte de um só filme onde o que quer que eu altere na minha parte da história eu altero a sua parte da história, eu altero o filme todo. Por isso disse que considero esse amor o mais sublime de todos, porque esse de fato requer paciência, superação, doçura e amor acima da média, amor bem acima do nossa forma medíocre de amar.

Eu tenho buscado esse amor, um exercício, diário, constante e infinito ainda mais morando em uma cidade tão cheia de gente como São Paulo. Acho que por mais surreal que pareça, se eu conseguir amar um estranho que me irrita como amo os meus, ou pelo menos tentar este caminho, estou concretamente contribuindo pra que haja alguma melhora no mundo. All we need is love. Imagine se todos amassem uns aos outros assim... Se pelo menos tentassem... E que tal começarmos por mim e por você? Pensando e agindo assim a partir de agora?

Dedico este texto ao otário da Land Rover preta que há 2 horas atrás me deu uma fechada na Aimberé com Heitor Penteado e ainda me mandou ir tomar no cu.
<3 br="">

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Cabo Polonio, Montevidéu e o olhar de turista

Playa Sur - Cabo Polonio - Uruguai


Quando comecei a escrever este texto estava no escuro no ônibus voltando de um lugar chamado Cabo Polonio. Cabo Polonio é uma vila de pescadores de cerca de 60 habitantes que está dentro de um Parque Nacional na costa do Uruguai. Lá não tem sistema de eletricidade e o acesso só é possível indo a pé pelas dunas ou com veículo 4 x 4 pelos 7 km de distância que separam o vilarejo do terminal de ônibus mais próximo, perto da entrada do Parque. Só estes fatos por si só já dão um encanto ao lugar, mas Cabo Polonio e Montevidéu me encantaram mais pelas reflexões e aprendizados que tive através de experiências simples que vivi.

Ainda que possa parecer, este texto não pretende ser algum tipo de registro de memórias desta experiência ( apesar de que naturalmente seja em alguma medida). Este texto também não pretende ser um guia turístico sobre os locais que estive, talvez um registro das reflexões e dos sentimentos que ficaram em mim, depois de 24h em Cabo Polonio e uma semana em Montevidéu.


Eis o que vivi em Cabo Polonio: Eu vi um sol se pondo que me fez chorar igual um bocó e de tão lindo seria inútil tentar qualquer descrição, eu vi o sol nascer ao lado de leões marinhos (que em sua maior parte estavam ali no continente para morrer, já que os jovens e saudáveis ficam numa ilha abarrotada deles em frente a Cabo, de onde no raiar do sol se ouve nitidamente seus gritos ou rugidos ou sei lá como se fala) este amanhecer que de tão mágico me faz carregar um sentimento inédito e indescritível comigo até agora, eu fiz um som no entardecer com um amigo desconhecido que me ofereceu fumar flores plantadas no seu jardim (flores é como chamam a maconha não prensada, e de consumo legal pra quem não sabe, no Uruguai) enquanto eu tocava bongô, ele violão e cantávamos de frente pro mar no Hostel, eu comi a melhor batata frita com molho de camarão picante da minha vida, eu peguei jacaré por horas e horas num mar de ondas perfeitas, eu encontrei um leão marinho morto num local isolado em frente às dunas, eu dormi na rede vendo um céu extremamente estrelado de um jeito que não via há anos.

Eu não tenho absolutamente nada de registro concreto disso tudo. Eu não tirei nenhuma foto de Cabo e isso me fez estar muito presente em cada uma destas experiências. E o irônico é que, paradoxalmente, se essa visita a Cabo foi assim inesquecível penso que foi justo por esta falta de registro.

Quando estamos viajando é mais recorrente não pensar na conta pra pagar amanhã, ou no pepino que não resolveu ontem no trabalho, vivemos mais o agora. Só que por outro lado temos a forte tendência de querer registrar tudo, seja com foto, souvenirs ou cadernos de viagem. Porque a gente precisa arrumar formas de recordar tudo? Ao meu ver isso nos faz menos conectados com o agora. Me lembro de uma cena do Sean Penn num filme que achei mediano, mas que me marcou, A Vida Secreta de Walter Mitty. O fotógrafo que ele interpreta está no alto das montanhas há muito tempo tentando tirar uma foto histórica do Leopardo Fantasma (que tem esse nome pela raridade de ser visto). Até que ele avista o bicho pela primeira vez, mas não bate a foto. Ele diz que se registrasse não iria viver tão intensamente a beleza do momento. Querer arrumar formas de registrar, não ajuda a viver a beleza de cada momento sabendo que ele é único e passageiro, não é o olhar do turista do qual eu falo aqui.

Quantas vezes por semana você pára pra contemplar o por do sol na cidade que você vive? E pra ver o sol nascer? E passear com calma olhando as pessoas, a paisagem, os prédios? Logicamente que quando não estamos de férias a rotina de trabalho e falta de tempo, em especial em cidades grandes como São Paulo, não costumam permitir estes tipos de atividades com frequência, mas meu ponto é que se trata de algo além da falta de tempo, se trata de um mind set, de uma forma de olhar a realidade, o tal olhar de turista.

O que se passou em Cabo, foi muito único, mas no sentido do que refleti nessa viagem foi bem parecido com o que aconteceu em Montevidéu: o olhar de turista.

Criança observando os lobos marinhos em Cabo Polonio.
Eu achei Montevidéu bem linda, mas penso que isso é questionável. Algumas vezes parava pra contemplar velhinhos andando, a arquitetura do prédio na esquina, as árvores, a vida das pessoas na varanda. Os moradores me olhavam meio sem entender o que eu via de bonito. Olhar de turista é essa generosidade no olhar, de ver beleza nas coisas simples, de ver o feio um pouco mais bonito e interessante, essa constante descoberta do novo, de ter um olhar de criança que está conhecendo todo um mundo à sua volta. Digo um olhar porque o que me pareceu claro nessa viagem é que se trata em parte do lugar ser agradável e bonito como eu achei Montevidéu, mas se trata muito mais dessa forma de pensar e olhar seu entorno. Ou não seria possível caminhar no centro de São Paulo e achar beleza?


Esse olhar de turista (em especial viajando sozinho) ao te ensinar a estar mais presente, pode também te ajudar a olhar situações sem querer se agarrar a elas. Como exemplo teve tudo de sensacional que mencionei que vivi em Cabo e não registrei, e também os momentos fodas que vivi com várias pessoas incríveis de vários lugares em Montevidéu.

Dentre elas teve um francês que estava viajando pelo mundo há dois anos. Passeei a pé pelas ramblas de Montevidéu um dia inteiro, conversamos sobre a vida dele nestes dois anos, discutimos muitos assuntos profundos e interessantes, um cara que poderia ser dos meus melhores amigos. Foi demais. Depois teve uma sueca linda de assustar com quem divivi o quarto.  Ela foi daquelas pessoas que bate o santo, que você conhece e em segundos te entende no olhar, que apesar das milhares de milhas de distância e diferenças culturais, vocês se divertem muito depois de 5 minutos que se conheceram. Acordamos, tomamos café, almoçamos e caminhamos manhã e tarde pelo Centro de Montevidéu antes dela ir embora. Foi sensacional. Não tenho nenhum registro destes dois encontros.

Só um improvável conjunto de situações muito favoráveis faria um outro encontro entre eu e estas duas pessoas acontecer, mas fiquei muito feliz de ter vivido momentos inesquecíveis com eles. Eu estava muito presente. Se eu me apegasse e me chateasse a cada despedida deste tipo de pessoas sensacionais que eu conheci e queria ter pra sempre na minha vida, eu também não estaria tendo o olhar de turista que falo.

Acho que de todas as viagens que fiz, essa de fato me fez entender e trazer esse olhar de turista pra minha vida, tantas vezes tão dura aqui em São Paulo. Hoje no fim de tarde, nadando contra a corrente, no meio de um ritmo frenético de milhões de pessoas apressadas, muito concreto e carros, eu caminhei calmamente pela Avenida Paulista na hora do rush, observando as pessoas. Depois peguei minha bicicleta e contemplei velhinhos andando, a arquitetura do prédio na esquina, as árvores, a vida das pessoas na varanda, até chegar à Praça do Por do Sol.
Hoje eu vi o sol se por em São Paulo. Foi lindo.

Praça do Por do Sol - SP (essa foto não fui eu que tirei )